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Economia

Preços do petróleo continuarão altos, segundo conselho mundial de petróleo

"É muito difícil fazer previsões sobre preços. Minha opinião é que, em primeiro lugar, vamos continuar tendo volatilidade porque há muitos fatores que influenciam os preços, a oferta e demanda, questões regulatórias, ambientais, geopolíticas, conflitos", , informou Bertani

Montevidéu - O crescimento da demanda mundial e investimentos cada vez maiores para obter petróleo em novas áreas farão o preço do petróleo se manter alto, disse nesta segunda-feira (28/10) à AFP o presidente do Conselho Mundial de Petróleo (WPC), o brasileiro Renato Bertani.

Bertani, presidente da Barra Energia, participou nesta segunda-feira em Montevidéu de uma oficina sobre as novas fronteiras de exploração nas bacias sedimentares do Atlântico Sul organizado pelo WPC, um fórum de discussão mundial sobre a indústria do petróleo e gás.

"É muito difícil fazer previsões sobre preços. Minha opinião é que, em primeiro lugar, vamos continuar tendo volatilidade porque há muitos fatores que influenciam os preços, a oferta e demanda, questões regulatórias, ambientais, geopolíticas, conflitos", informou Bertani.

"Em termos de média de preços, como a demanda continuará aumentando e para continuar produzindo o petróleo que for necessário vamos ter que investir em áreas cada vez mais caras, uma consequência é que o preço continuará alto", avaliou. "O quanto, é impossível dizer, mas como mínimo o nível em que está hoje em dia, de 100 a 110 dólares por barril de petróleo Brent".

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O presidente do WPC acredita que com o aumento da demanda prevista somado às novas descobertas de hidrocarbonetos em áreas até agora não exploradas mudará a influência da Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) no mercado.

"Agora a parte leste da África se tornou uma área de grande interesse, houve grandes descobertas de gás e estamos vendo muitos investimentos também nesta região", explicou. "Acredito que o que vai acontecer no futuro é que a medida que cresce a população mundial e que haja mais desenvolvimento econômico, isso vai aumentar a demanda por petróleo, mas para fornecer (petróleo a) esta demanda vamos ter que buscar recursos por todo o mundo e em todas as áreas, em águas muito profundas, águas rasas (a menos de 500m de profundidade) e áreas não convencionais".

"Uma implicação que isso traz é que diminua a participação da OPEP em termos proporcionais na contribuição do petróleo para a demanda global", explicou.

Um futuro sem áreas para explorar

No futuro, dificilmente restarão áreas inexploradas, prevê o presidente do WPC. "Sempre podem surgir novos conceitos, novas ideias, alguém que visualize uma região de forma diferente e consiga fazer descobertas. É basicamente uma questão de tecnologia e economia", disse.

Um exemplo são as imensas jazidas de pré-sal no Brasil, descobertos em 2007 em águas ultraprofundas brasileiras, entre 5 e 7 km abaixo da superfície.

A primeira licitação desses campos aconteceu na semana passada e foi vencida por um consórcio integrado pela estatal Petrobras (40%), a anglo-holandesa Shell e a francesa Total (20% cada uma), e as chinesas CNPC e CNOOC (10% cada una), que o explorarão durante 35 anos.

Bertani acredita ser positivo que a participação das empresas chinesas na região aumente. "É uma combinação de forças que inclui companhias que têm alto desenvolvimento tecnológico e companhias que têm uma grande capacidade financeira. São as coisas necessárias para o desenvolvimento de uma descoberta como (o campo de) Libra, que vai ser muito caro", disse.

Apesar de o presidente do WPC prever que a exploração se estenda a todo o planeta, admite que algumas áreas - como o Ártico - demorarão mais.

"A indústria está procurando cobrir todas as áreas, mas há áreas onde certamente vai ser muito mais difícil", informou. "O Ártico é um caso típico porque estão as questões ambientais, que aí sim são muito mais complicadas e as operações nas condições do Ártico são muitíssimo mais complexas".

Assim, informou que "haverá estudos, mas vai levar pelo menos dezenas de anos antes de que se comece a produzir de forma continua no Ártico".