O governo de Raúl Castro anunciou nesta terça-feira (22/10) o início da unificação dos pesos cubano e conversível que circulam em Cuba há 19 anos, em um processo que exclui "terapias de choque", segundo uma nota oficial que não revela mais detalhes. "Foi acordado pelo Conselho de Ministros (Executivo) colocar em vigor o cronograma de execução das medidas que conduzirão à unificação monetária e cambial", afirmou a nota publicada no jornal oficial Granma.
Havana destacou que, em "uma primeira etapa", o processo de unificação monetária começará pelo setor empresarial com o objetivo de "propiciar as condições para o aumento da eficiência, a melhor medição dos fatos econômicos e o estímulo aos setores que produzem bens e serviços para a exportação e a substituição de importações".
Em um segundo momento, também envolverá as "pessoas naturais", completa o texto, sem explicar quando ou de que forma a medida será aplicada.
O peso conversível (CUC), em vigor desde dezembro de 1994 e equiparado ao dólar, equivale a 24 pesos cubanos, moeda com a qual os cubanos recebem salários insuficientes - 20 dólares por mês, em média - e pagam os principais serviços estatais.
No entanto, os cubanos são obrigados a completar a cesta básica e a comprar outros produtos de primeira necessidade em uma rede de lojas que operam com o CUC, a preços que não são acessíveis para sua renda.
A eliminação da dupla circulação monetária, que gera uma grande desigualdade social e cria uma perturbação na contabilidade nacional, foi um dos principais pedidos da população a Raúl Castro durante os debates prévios ao VI Congresso do Partido Comunista de abril de 2011.
Os cubanos que usam CUC são fundamentalmente os que trabalham para o turismo ou empresas estrangeiras, assim como os que se beneficiam de remessas familiares enviadas do exterior, estimadas em 2,5 milhões de dólares anuais, segundo cifras extra-oficiais.
Na ilha, um clínico geral recebe um salário mensal de 500 pesos cubanos, enquanto um mecânico por "conta própria" pode ganhar cerca de 400 CUC (9.600 pesos cubanos) nesse mesmo tempo.
Cuba quer dar um sinal de abertura
"A unificação será uma reforma extraordinariamente audaz, que melhorará consideravelmente o clima dos negócios, enviando aos investidores sinais claros de racionalidade dos preços enquanto potencializa e incentiva as exportações", disse à AFP, Richard Feinberg, da Universidade da Califórnia e analista do Brookings Institute.
Também é "um sinal à comunidade internacional de que Cuba acelera sua marcha para uma economia mais aberta", acrescentou.
O economista cubano Esteban Morales considerou que a unificação monetária será "um processo gradativo", que pode se estender por vários anos e que dependerá de quanto o país avançar "no reordenamento econômico, do modelo e do crescimento da produtividade".
De toda forma, alertou: "todas essas medidas monetárias não são a varinha mágica que vai resolver todos os nossos problemas".
A dupla circulação da moeda também se transformou em um quebra-cabeça para a contabilidade nacional, pois a paridade CUC-CUP criou uma "distorção de toda a realidade econômica", declarou à AFP o economista cubano Pavel Vidal, da Universidade Javeriana da Colômbia.
"Essa distorção das medidas econômicas falseia todas as decisões tomadas pelas empresas e todo o planejamento centralizado", acrescentou Vidal.
Em 2004, o presidente Fidel Castro retirou o dólar de circulação como resposta às restrições do embargo dos Estados Unidos e o deixou apenas como moeda de referência. Além disso, desvalorizou o peso conversível o CUC em 8% e aumentou 10% da comissão de câmbio.
Em 2011, Raúl Castro, que substituiu seu irmão enfermo em 2006, voltou à paridade CUC-dólar.
A notícia mal começou a circular nesta terça-feira entre os cubanos e alguns já se mostraram preocupados com uma eventual desvalorização de suas poupanças em pesos conversíveis.
O próprio economista Esteban Morales contou que teve que intervir quando uma mulher pretendia retirar do banco os "2.000 CUC" que tinha, porque "há um rumor".
As diferenças sociais geradas pelo peso conversível se acentuaram a partir de 2008 quando Raúl Castro deu luz verde à ampliação do trabalho por "conta própria", uma modalidade com a qual 430 mil cubanos ganham a vida agora, principalmente donos de pequenos restaurantes, salões de beleza e taxistas.