O dia seguinte à decisão do Banco Central (BC) de elevar a Selic pela quinta vez consecutiva no ano, para 9,5%, foi de indefinição nos mercados. Como a instituição deixou em aberto a possibilidade de subir a taxa pelo menos mais uma vez até o fim de 2013, a dúvida geral de analistas e até de membros do governo Dilma Rousseff passou apenas uma: até onde vai o juro básico no Brasil?
Como a percepção é de que talvez esse processo se estenda até o início de 2014, o que resultaria em levar a Selic para acima da barreira simbólica de 10% ao ano, um grande número de operadores da bolsa passou a postar, nos chamados mercados futuros de juros, em pelo menos mais uma alta de 0,5 ponto na última reunião do ano do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para o fim de novembro.
O movimento provocou também reflexos no dólar, que caiu ontem para o menor patamar em quatro meses. Com juros maiores, o Brasil passa a ficar mais atraente para o investidor estrangeiro, que poderá lucrar com operações de arbitragem, que consiste em tomar dinheiro emprestado a taxas menores em nações avançadas e aplicar em títulos do governo de economias em desenvolvimento. Como vieram mais dólares para o país, a oferta de moeda no Brasil aumentou, levando a cotação da divisa norte-americana a recuar 1,13%, para o patamar de R$ 2,181 para a venda, o menor valor desde 18 de junho. Refletindo o bom humor com o país, o Ibovespa, o principal índice de desempenho da Bolsa de Valores de São Paulo, voltou a subir ontem, ao marcar 53 mil pontos, alta de 0,85%.
Os mercados têm apostado que a elevação nos juros tende a conseguir frear, ainda que não muito, a escalada da inflação, que, pela primeira vez no ano, em setembro, ficou abaixo de 6%. Com inflação menor e juros mais altos, o país tende a se tornar mais atraente ao investimento, avaliou ontem o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.
Em Washington, nos Estados Unidos, onde participou do encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, o executivo ponderou que a alta dos juros ;cria confiança na estabilidade;, e reforçou que, apesar de taxas maiores de juros significarem um custo a mais para que empresas possam tomar dinheiro e aplicar em projetos de expansão da capacidade produtiva, a elevação da Selic servirá para melhorar a ;confiança do setor privado; no país. ;O investimento depende de confiança no futuro;, assinalou.
Essa confiança só não é maior, diz o ex-diretor de Mercado de Capitais do BC Keyler Carvalho Rocha, porque nem o governo, nem a autoridade monetária parecem estar preocupados em trazer a inflação pra o centro da meta de 4,5%. Na avaliação dele, esse número tem servido apenas como uma referência, não consistindo no verdadeiro alvo a ser a ser perseguido pelo BC. ;É como se você falasse para seu filho que ele tem que tirar 10 na escola, mas se ele tirar 8,5 já está de bom tamanho;, disse. Keyler, hoje professor de finanças da Universidade de São Paulo (USP), acredita que qualquer resultado abaixo de 6% ;já é suficiente; para o governo, que sabe que, para conseguir reduzir a inflação abaixo desse patamar, teria que fazer um grande esforço fiscal, cortando despesas de custeio da máquina pública. ;Mas não vejo essa possibilidade tão cedo;, disse.
Para o economista Mansueto de Almeida, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), lembra que, a partir de 2014, mesmo com juros maiores, o governo terá um novo desafio para trazer o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o centro da meta: controlar os chamados preços administrados, como contas de água, luz, telefone e passagens de transportes públicos. ;O que está segurando a nossa inflação são os preços administrados, que são controlados pelo governo. É como os reajustes de passagens, que várias prefeituras seguraram neste ano. Em algum momento isso vai ter que ser revisto, e essa pressão será um outro grande desafio para o BC no ano que vem;, disse.