Usado em boa parte dos alimentos industrializados, como sucos e refrigerantes, biscoitos e iogurtes, o açúcar é um ingrediente fundamental para a indústria alimentícia para realçar o sabor dos alimentos. Seu crescente consumo, contudo, além de preocupar especialistas em saúde, também é alvo da apreensão de organizações ambientalistas e de defesa dos direitos humanos.
[SAIBAMAIS]Na semana passada, a Oxfam, entidade internacional que reúne 17 organizações não governamentais (ONGs) que atuam em 92 países, lançou uma campanha para que as dez maiores empresas alimentícias e de bebidas não alcoólicas do mundo adotem medidas para evitar que pequenos produtores rurais e comunidades tradicionais sejam expulsos de suas terras para dar espaço ao plantio de cana-de-açúcar. Segundo a Oxfam, as grandes empresas globais de alimentos e bebidas raramente são donas da terra onde a cana-de-açúcar é produzida. Mesmo assim, devem adotar medidas para identificar, evitar e resolver eventuais conflitos agrários decorrentes da produção dos insumos que consomem.
Com a campanha, a Oxfam espera que a pressão da opinião pública force companhias como Coca-Cola, Pepsi, Danone, Nestlé, Kellogg;s e Unilever a não adquirir o açúcar produzido por fornecedores instalados em áreas em litígio. A lista inclui também a Associated British Foods (detentora, no Brasil, da marca Ovomaltine), General Mills (dona da marca Yoki e responsável por vender as barras de cereais Nature Valley e o sorvete H;agen-Dazs), Mars (chocolates M e Twix; molhos Masterfoods) e Mondelez International (Tang, Fresh, Clight, Trakinas, Halls, entre outros produtos)
A Oxfam considera que essas empresas não adotam medidas para identificar, evitar e tratar os conflitos fundiários e sociais eventualmente provocados por seus fornecedores de açúcar. De acordo com a Oxfam, em 2012 foram produzidas 176 milhões de toneladas de açúcar em todo o mundo. Após o consumo mundial ter mais que dobrado entre 1961 e 2009, a estimativa é que, ;devido ao nosso insaciável amor pelo doce;, a produção cresça 25% até 2020. O aumento da demanda, alerta a entidade internacional, pode acirrar a disputa por áreas produtivas. ;Comunidades pobres do mundo inteiro são envolvidas em conflitos por terras, sendo expulsas sem serem consultadas e sem receber qualquer compensação [financeira] para que enormes plantações de cana-de-açúcar sejam instaladas. Ao perderem suas terras, essas pessoas também perdem seus lares e sua principal fonte de renda e de alimentos;, aponta a Oxfam no relatório O Gosto Amargo do Açúcar, divulgado na semana passada, em que cita o açúcar, a soja e o óleo de dendê como as três matérias-primas cuja produção mais oferece riscos de fomentar conflitos.
Para a Oxfam, as dez maiores empresas, principal alvo da campanha, têm que reconhecer sua responsabilidade na resolução dos conflitos agrários da indústria açucareira. ;Embora possam não ter responsabilidade legal ou controle direto sobre os conflitos, como importantes compradores elas estão sujeitas às normas internacionais de direitos humanos e devem assumir responsabilidade no encaminhamento do direito à terra em sua cadeia de suprimento;, alega a entidade, antes de apontar que, embora as decisões das dez companhias possam mobilizar outras empresas a seguir o mesmo caminho, cabe aos governos locais a responsabilidade por resolver os conflitos agrários. ;Conflitos agrários são questões de longa duração, com raízes complexas na má governança, na posse incerta da terra e em desigualdades históricas. Os governos têm a responsabilidade de garantir os direitos básicos a seus cidadãos. Se as Dez Grandes transmitirem uma mensagem clara de tolerância zero para a apropriação de terras ; mensagem reforçada por mudanças na política e na prática ; poderão fazer a diferença;, conclui o estudo.