Washington - Incendiários, extremistas, suicidas e anarquistas: os legisladores do Tea Party são acusados todos os dias de sabotar o sistema político americano, mas a intransigência é a chave do sucesso, em uma geografia eleitoral cada vez mais polarizada. A retórica se inflamou nos corredores do Congresso americano desde que ocorreu na terça-feira (1;/10) o primeiro fechamento parcial da administração federal em 17 anos. Para o chefe dos democratas no Senado, Harry Reid, aliado do presidente Barack Obama, "estamos numa relação com anarquistas: eles odeiam o Estado".
Mas apesar de uma opinião pública que julga muito duramente os republicanos pelo bloqueio, os legisladores como Huelskamp estão protegidos de uma eventual sanção eleitoral. "Os congressistas buscam principalmente a reeleição", explicou Sarah Binder, pesquisadora de ciência política na Universidade George Washington. "É muito possível que a imagem republicana sofra um golpe, mas não é algo que será sentido em estados como Idaho ou Kansas", solidamente ligados aos republicanos.
[SAIBAMAIS]Tomada de reféns
Mais que o desenvolvimento eleitoral, o fator principal da emergência de candidatos muito radicalizados é, segundo Binder, a polarização crescente da geografia eleitoral: os republicanos nas zonas rurais, os democratas sobre as costas e nas cidades. Cada vez mais, a eleição crucial é a primária, transformada em um concurso de pureza ideológica. A isto se soma a influência de organizações nacionais ultraconservadoras, como o "Club for Growth", que classifica os legisladores em uma escala de conservadorismo (Hueslkamp tem 100%), e investem milhões em campanhas publicitárias contra os republicanos moderados.
Para Susan MacManus, professora na Universidade da Flórida do Sul, a constante pressão do ciclo midiático e das redes politizadas (Fox News à direita, MSNBC à esquerda) exacerba ainda mais a polarização. "As pessoas como os senadores Ted Cruz e Rand Paul exploram esta moda da combatividade que vemos entre as celebridades da televisão e nos reality shows, onde a gentileza não produz verdadeiramente pontos a favor", comentou MacManus.
Em 1995 e 1996, a maioria republicana e o presidente democrata Bill Clinton também se enfrentaram pelo orçamento e chegaram ao bloqueio, mas, segundo o historiador, Steven Gillon, da Universidade de Oklahoma, o chefe republicano de então, Newt Gingrich, contava com certa influência sobre seus membros. Uma estatura política que hoje falta a John Boehner, presidente da Câmara, para conduzir seu grupo.
Mas alguns republicanos não contêm mais sua impaciência diante de seus colegas rebeldes. "Considero que sou um verdadeiro conservador, mas vejo que o que acontece aqui com os republicanos com as tendências como as de Ted Cruz é uma loucura", disse Peter King, legislador por Nova York. "Deixamos que sequestrassem nosso partido", lamentou.