Jornal Correio Braziliense

Economia

Estados Unidos já sentem reflexos da falta de acordo sobre orçamento

Com quase 800 mil funcionários sem poder trabalhar, parques nacionais, museus e até a Estátua da Liberdade estão fechados



Washington - A falta de acordo entre Democratas e Republicanos sobre o orçamento dos Estados Unidos já reflete negativamente em vários setores do país. O governo ficou paralisado nesta terça-feira (1;/10) pela primeira vez em 17 anos, com a paralisação técnica que obriga quase 800 mil funcionários públicos considerados não-essenciais, de um total de dois milhões, a permanecer em casa sem salário até nova ordem. Parques nacionais, museus e monumentos estão fechados, incluindo a emblemática Estátua da Liberdade. Especialistas alertam que a situação pode ficar ainda mais grave dentro de duas semanas, caso não exista um acordo político sobre o teto da dívida.

A determinação pela paralisação foi anunciada pela Casa Branca no final da noite de segunda-feira (30/9). "As agências devem executar agora os planos para uma paralisação ordenada diante da ausência de recursos", destacou em um memorando Sylvia Mathews Burwell, diretora do bureau de Orçamento da Casa Branca. "Lamentavelmente, não temos uma indicação clara de que o Congresso atuará a tempo para que o presidente (Barack Obama) assine uma resolução orçamentária antes do fim de 1; de outubro de 2013", completa o memorando.

A ordem foi emitida minutos antes de o governo americano ficar sem verba devido ao impasse no Orçamento envolvendo uma queda de braço entre os democratas e a oposição republicana. A decisão ocorre após o Senado, de maioria democrata, rejeitar nesta segunda-feira à noite a nova versão do projeto de lei orçamentário aprovada minutos antes pela Câmara de Representantes, de maioria republicana.

Os senadores democratas rejeitaram o texto do Orçamento devido ao artigo que adia a entrada em vigor da reforma de Saúde promovida pelo presidente Barack Obama, a chamada Obamacare, prevista para esta terça-feira. Minutos antes, a Câmara de Representantes havia adotado um terceiro projeto temporário de Orçamento, por 228 votos a 201, aprovando o Orçamento mas retardando, por um ano, a aplicação do Obamacare. Para o senador democrata Harry Reid, os legisladores do partido Republicano "perderam a cabeça" e preferiram provocar a paralisação do governo federal apenas para impedir a reforma do sistema de saúde.

Confiança cai

Uma pesquisa de opinião da Universidade Quinnipiac mostra que 77% dos americanos são contrários à necessidade de fechar parcialmente atividades do Estado e apenas 22% apoiam a estratégia republicana. O nível de confiança dos republicanos do Congresso caiu a 17%, segundo a pesquisa, enquanto o apoio aos democratas alcança 32%. Obama também não fica bem na pesquisa, pois 49% dos entrevistados têm uma opinião negativa de sua gestão da crise, contra 44% que o aprovam.





Precedente do inverno 1995-96

O desemprego técnico de 800 mil funcionários públicos americanos em consequência da falta de acordo sobre o orçamento federal recorda o que aconteceu no inverno de 1995-96, durante a presidência do democrata Bill Clinton. A disputa entre o Executivo e o Legislativo, dominado então pelos republicanos que exigiam cortes no orçamento, provocou a paralisação dos serviços administrativos federais, em duas oportunidades, a primeira durante seis dias e depois por três semanas.

Um total de 800 mil funcionários entrou em desemprego parcial de 14 a 19 de novembro de 1995 e 280 mil entre 16 de dezembro e 7 de janeiro de 1996. Durante a segunda paralisação, outros 500 mil funcionários trabalharam, mas não receberam o pagamento. As perdas provocadas pela paralisação do Estado federal, quando a opinião pública atribuiu a responsabilidade aos republicanos, foram estimadas em 1,4 bilhão de dólares.

[SAIBAMAIS]Uma forte tempestade de neve agravou a situação, impedindo a retomada dos trabalhos durante dois dias, 8 e 9 de janeiro de 1996. O compromisso sobre o orçamento foi alcançado em 28 de setembro de 1996 entre a Casa Branca e os líderes do Congresso, Bob Dole no Senado e Newt Gingrich na Cámara de Representantes.

Em novembro de 1996, o presidente Clinton vetou o projetos dos republicanos para reduzir o financiamento em sete anos do Medicare (o seguro médico dos aposentados) em um valor duas vezes maior do que ele desejava (226 bilhões de dólares contra 102 bilhões), assim como a redução dos impostos (240 bilhões contra 87 bilhões). Os democratas também eram contrários ao corte de recursos do orçamento para educação e meio ambiente.

Os ;fechamentos; afetaram principalmente os serviços "não essenciais" como o de entrega de passaportes, parques nacionais, museus e monumentos, como a Estátua da Liberdade. Os funcionários que continuaram trabalhando foram os militares, policiais, carteiros, controladores aéreos, meteorologistas e inspetores sanitários. O presidente Clinton foi reeleito em 5 de novembro de 1996.