Cartão? Só o quase extinto telefônico. Talão de cheque? Ele viu na mão dos outros, mas já faz um tempo. Entrar numa agência? Raramente: para ;sentir o ar-condicionado; ou, se a lotérica está fechada, para pagar as contas de água e luz. ;Não tenho dinheiro. Para quê conta em banco?;, pergunta, rindo, o baiano Miraltino Dias, de 65 anos. ;Banco para mim é aquele de sentar ou onde os ricos guardam as coisas;, completa ele, enquanto reúne materiais para reciclagem sob o sol do meio-dia.
A única carteira que Miraltino teve na vida é a de identidade. ;Nunca precisei guardar dinheiro. É tão pouco, que eu vou pegando e soltando;, diz ele. Nos melhores meses, as andanças pelo lado sul do Distrito Federal o fazem ;pegar; perto de R$ 700, que ele ;solta; com os remédios para a mulher, diabética, e com as despesas da casa, em Águas Lindas, no Entorno goiano, onde também moram dois dos quatro filhos.
Sem aposentadoria nem outros benefícios fixos, o catador não tem a pretensão de um dia abrir conta em banco. ;Se me dessem um cartão desses com R$ 1 milhão dentro, não ia adiantar nada. Não saberia nem por onde começar a mexer naquela máquina;, comenta.;Esse negócio de banco só interessa para quem faz conta alta. Não é o meu caso.;
Miraltino é um dos 52,8 milhões de brasileiros acima de 16 anos sem qualquer vínculo bancário. As instituições financeiras avançaram pelo país na última década, se modernizaram, zelaram pela liquidez, mas não conseguiram impedir que uma multidão de trabalhadores continuassem à margem do sistema. ;A filosofia dos bancos é a do lucro. Claro que ainda prevalece uma natureza restritiva na definição dos clientes;, avalia o presidente da Associação Brasileira de Entidades Operadoras de Microcrédito e Microfinanças (Abcred), Almir Pereira da Costa.
Desafio
Estudo feito no ano passado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), em parceria com o Ibope, fortalece o desafio da chamada inclusão financeira, conceito que surgiu menos de uma década atrás. O perfil dos sem-banco esbarra em baixos níveis de renda e escolaridade. Não à toa, esse grupo se concentra nas regiões pobres. ;Os bancos parecem não entender que esses clientes podem não gerar lucro, mas representam desenvolvimento econômico;,diz Costa.
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