Madri - A Espanha, que há apenas um ano parecia o patinho feio da zona do euro, está voltando, pouco a pouco, a seduzir os mercados, apesar de continuar frágil devido as suas modestas perspectivas econômicas, alertam os analistas.
"Viva a Espanha", exclama o banco Morgan Stanley em uma nota recente onde recomenda comprar dívida espanhola. Há apenas onze meses, a corretora Link Securities definia o país como "o ;grande problema; da região". Nesse momento, os mercados pressionavam Madri para que pedisse, além disso, ajuda europeia a seus bancos, um resgate econômico global como em Portugal ou Grécia.
"No ano passado, pouco antes de setembro, era o contrário, tentando não ver os relatórios de analistas para não se deprimir", reconhecia na quarta-feira Antonio Carrascosa, diretor do Frob, o fundo de reestruturação bancário. "Agora é o contrário", prossegue. "Estamos diante de uma incipiente recuperação".
Alguns dados demonstram: no final de julho de 2012, o rendimento dos títulos da dívida pública a 10 anos era de 7,5%, um recorde desde o começo do euro e uma situação insustentável.
Atualmente oscila ao redor de 4,4%, enquanto o Tesouro público já completou mais de 80% de seu programa de financiamento para 2013. A bolsa madrilena acaba de superar a barreira simbólica dos 9.000 pontos, que caiu em outubro de 2011. "A atividade econômica espanhola está se recuperando, impulsionada por sólidas exportações", escreveu Morgan Stanley.
O banco não poupa elogios para a quarta economia da zona do euro: "em termos de reformas estruturais, a Espanha, comparado com seus vizinhos, parece um caso exemplar de progresso em campos como o setor financeiro, o mercado de trabalho ou o marco orçamentário".
Para o ministro da Economia, Luis de Guindos, há uma clara "mudança de percepção" dos mercados: "a Espanha, há um ano, era um problema para a economia europeia e para a economia mundial", mas agora já "não é", disse recentemente.
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Após dois anos em recessão, espera-se que a economia espanhola volte a crescer este trimestre apesar do ministro se mostrar prudente: "Isso não quer dizer que deixou a crise para trás". Mais prudentes ainda são alguns analistas. "Esperemos para ver", disse Fergus McCormick, responsável pelas notas soberanas na agência de classificação DBRS, que atribui a Espanha uma "A-" com perspectiva negativa.
"Estamos realmente esperando sinais de progresso a médio prazo em três campos": a redução do déficit público a 6,5% do PIB em 2013 e a 5,5% em 2014, a criação de emprego para reduzir a taxa de desemprego de 26,26% e as "reformas estruturais, em que a Espanha progrediu muito, mas ainda resta muito a fazer, sobretudo, no mercado de trabalho".
[SAIBAMAIS]Quanto ao setor bancário, muito debilitado após o estouro da bolha imobiliária em 2008 e saneou notavelmente graças aos 41,3 bilhões de euros de ajuda europeia, mas "a grande preocupação é a estabilidade do mercado imobiliário", com mais de um milhão de casas para vender que pesam nos balanços dos bancos, enquanto aumenta a inadimplência.
A mesma prudência é sentida na análise de Jesús Castillo, especialista em sul da Europa no Natixis: "o problema bancário está sob controle, mas ainda no está completamente resolvido".
"De todo modo, não acontecerá nada até que não haja perspectivas econômicas um pouco melhores", disse. O governo só projeta um crescimento de 0,5% em 2014 e de 1% em 2015, com a taxa de desemprego próxima a 25% até 2016. "É uma economia ainda muito frágil que dependerá essencialmente de fatores de confiança que façam o ciclo de investimento ser retomado ou não", prevê Castillo.
McCormick se soma às advertências: "o risco é que se houver um impacto na Espanha ou no exterior que desestabilize o mercado financeiro e aumente as taxas de juros para a Espanha, isso possa se transformar em um foco de preocupação" com uma dívida pública de 92,2% do PIB, quando em 2007 era apenas de 36,3%.