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Economia

Papel, pneus e telefones: a Nokia se redefine novamente

Ao anunciar a venda de sua unidade de telefonia móvel para a gigante tecnológica norte-americana por 5,77 bilhões de euros (US$ 7,17 bilhões), a Nokia disse que mudaria de direção para se focar em serviços de infraestrutura de rede

Estocolmo, 3 setembro 2013 (AFP) - A venda da unidade de celulares da Nokia para a Microsoft é apenas o último exemplo de como a empresa filandesa se reinventa radicalmente para sobreviver.

Ao anunciar a venda de sua unidade de telefonia móvel para a gigante tecnológica norte-americana por 5,77 bilhões de euros (US$ 7,17 bilhões), a Nokia disse que mudaria de direção para se focar em serviços de infraestrutura de rede.

A companhia finlandesa foi pega de surpresa primeiramente pelo sucesso da Blackberry, que, no começo dos anos 2000, seduziu executivos com a possibilidade de acesso aos e-mails, e depois, pelo sucesso do iPhone da Apple, lançado em 2007, que deu aos usuários de celulares, fácil acesso à internet.

Recentemente, foi a sul-coreana Samsung que, em 2012, tirou a Nokia do topo da lista da maior fabricante de celulares do mundo, após 14 anos. Ironicamente, a Samsung usou, inicialmente, o sistema operacional Symbian da Nokia em seus smartphones.

Para a Nokia, trocar celulares por redes é apenas a mudança mais recente de uma empresa com 150 anos de história, que se redefiniu, ao longo dos anos, de um grupo florestal para uma fabricante de botas de borracha, pneus, cabos, eletrônicos, TVs e, enfim, celulares. A empresa soube quando cortar atividades deficitárias e encontrar novos caminhos para se desenvolver.

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"Esta não é a primeira vez que eles fazem uma mudança drástica ao vender negócios", disse Jari Ojala, professor de história dos negócios na Universidade Finlandesa de Jyvaeskylae.
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Nos anos 90, a Nokia se desfez de tudo o que não era telefonia ou relativo a essa área, vendendo suas atividades industriais que estavam sobrecarregando suas contas, como as unidades de pneus, cabos e televisões.

"Caso contrário, estariam caminhando para a falência. Essas indústrias estavam em uma espécie de crise, o contexto econômico mudou com a queda da União Soviética e a Nokia estava sujeita a pressões internas e externas para mudar a estrutura de seu conglomerado", lembrou Ojala.

"A Nokia sempre foi capaz de ter uma visão de longo prazo de sua estratégia. Isso explica porque começaram a investir pesadamente em eletrônicos na década de 60, mesmo que isso não se pagasse imediatamente", acrescentou. Foi aí que as primeiras sementes da telefonia celular foram lançadas, começando com aplicações militares.

A Nokia estava convencida de que a tecnologia teria grande espaço entre o público em geral e desenvolveu o primeiro telefone para carros do mundo.

Em 1987, o líder soviético Mikhail Gorbachev foi fotografado em Helsinque usando um telefone portátil para carros da Nokia, o que causou sensação.

Em 1991, o primeiro-ministro finlandês Harri Holkeri fez a primeira chamada GSM do mundo em um celular da Nokia, com o padrão ainda em uso atualmente. A Nokia se tornou a maior fabricante de celulares, com uma reputação de qualidade, confiabilidade e boa interface.

Nos anos 90, a empresa que surgiu em Tampere em 1835, se tornou uma marca mundial, com a rápida disseminação do uso dos celulares globalmente.

Em 2007, a empresa empregava diretamente 24.700 pessoas na Finlândia ou cerca de 1% da população do país. Em 2011, o grupo possuía 134 mil funcionários em todo o mundo. Em seu site, a Nokia resume sua história "mudar com o tempo, quebrar o status quo, é o que sempre fizemos".