Para especialistas em recursos humanos, o problema é que há, muitas vezes, um descasamento entre o que o mercado quer e o que o profissional tem a oferecer. O diretor executivo da empresa de recrutamento Page Personnel, Roberto Picino, ensina que o primeiro passo para evitar essa contradição é o autoconhecimento. Identificar o que quer e em que se encaixa: carreira acadêmica, corporativa, privada ou pública. E isso deve se tornar claro de preferência quando a pessoa ainda é bem jovem. Nunca é tarde, porém, para ajustes. “Pode-se procurar aconselhamento de um headhunter e encontrar novos rumos”, aconselha.
Obstáculos semelhantes têm sido enfrentados pela advogada mineira Fernanda Nepomuceno de Souza, 42 anos. Doutora em ciências políticas e diplomáticas, na Holanda, ela morou na Bélgica e na Costa do Marfim. Pesquisadora da Organização das Nações Unidas (ONU), ganhou prêmios internacionais e escreveu o livro Tribunais de guerra. Ao voltar ao Brasil, viu seu salário despencar de R$ 20 mil para R$ 5 mil. Ela vem tentando se recolocar em vagas melhores, mas não consegue. “Recebo sempre a mesma resposta: ‘não temos condições de pagar’. O currículo só não adianta. É preciso uma pessoa para nos indicar”, reforça ela, que se queixa de ver gente sem qualificação ganhando mais. Fernanda pensa em trocar a iniciativa privada pelo serviço público.