FRANKFURT - O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, declarou nesta quinta-feira (4/7) que manterá sua atual política monetária "durante o tempo que for necessário" e se comprometeu a manter as taxas de juros no nível atual, as mais baixas da história, e até reduzi-las ainda mais.
É a primeira vez que a instituição de Frankfurt se compromete em relação ao tempo, um gesto que foi qualificado de "mini-revolução" por Christian Schulz, economista do banco Berenberg, embora Draghi não tenha entrado em detalhe sobre datas.
Na coletiva de imprensa que se seguiu ao anúncio de que o conselho de diretores decidiu manter as taxas de juros em seu atual nível histórico de 0,5%, Draghi alertou que "o fim (do período atual de taxas historicamente baixas) está muito longe".
Ele também informou que a decisão sobre a política monetária foi adotada por unanimidade no conselho de diretores, dando a entender que até os mais ferventes defensores da ortodoxia monetária, entre eles o banco central alemão, concordaram.
Os analistas esperavam uma mensagem tranquilizadora de Draghi, diante do retorno das tensões aos mercados financeiros nos últimos dias e, em particular, nos da dívida dos países periféricos da zona do euro, devido à crise política portuguesa.
O anúncio do Federal Reserve norte-americano (Fed) de que começou a examinar a retirada progressiva das medidas de apoio à economia da primeira potência mundial há duas semanas, provocou a alta das taxas de juros dos países com problemas de dívida para se refinanciar no mercado e uma campanha de comunicação dos membros do BCE para dizer que não pensavam fazer o mesmo.
Apesar de Draghi ter dito nesta quinta-feira (4/7) que a instituição que preside não atua em função do que outros bancos centrais fazem, suas declarações de hoje seriam destinadas a tentar frear a alta do rendimento que os Estados da região têm que pagar e que ameaçam a recuperação da zona do euro.
Para Carsten Brzeski, do banco ING, a apresentação de uma orientação política monetária significa uma mudança do BCE, que passa de "um banco central duvidoso e reticente a audaz".
"Nos últimos meses, seguiu os passos do Fed: muita atenção no crescimento com uma menção explícita do desemprego alto e agora uma ;forward guidance;", ou seja, uma política monetária própria, acrescentou.
Isso mostra que está "tentado efetivamente tudo para preservar a frágil recuperação na zona do euro", disse o economista.
Contudo, para justificar esta decisão, Draghi destacou que, apesar da melhora nos recentes indicadores de confiança, a economia real continua sendo frágil e a dinâmica monetária, modesta.
A orientação estará submetida a três critérios: as perspectivas de inflação a médio prazo (que no momento continua contida), o crescimento econômico e os meios de pagamento e créditos do setor privado.
Na quinta-feira (4/7), a instituição monetária decidiu manter as taxas de juros inalteradas, mas alguns diretores mencionaram a possibilidade de reduzi-las ainda mais, disse Draghi.
As declarações do presidente do BCE se somaram às do presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, que também confirmou a continuação de uma política monetária acomodativa, que levaram as bolsas europeias à alta e contribuíram para uma clara distensão no mercado da dívida europeia.
As declarações de Draghi atuaram como um bálsamo para os mercados a julgar pelos resultados das principais bolsas europeias, que fecharam com fortes altas após as quedas dos últimos dias, influenciadas pela crise política portuguesa.