A insistente alta de preços ressuscitou clichês consagrados durante a hiperinflação dos anos 1980. Os brasileiros voltaram a perder o sono fazendo contas ou pensando nelas. A renda, embora mais elevada, já não é suficiente para arcar com os mesmos compromissos de antes. Hábitos de consumo estão sendo revistos. O supérfluo aceitável virou luxo. E planos, muito a contragosto, são adiados. A inflação freou o embalo das famílias.
Enquanto os porta-vozes da política econômica tentam tranquilizar a população, assegurando que o custo de vida está sob controle, as prateleiras dos supermercados desmentem o discurso oficial. Não se trata mais de pessimismo ou otimismo: as mudanças no orçamento doméstico comprovam os efeitos da carestia no cotidiano. ;Nós estamos trabalhando (para diminuir a inflação). Se vai ter resultado, o futuro vai dizer;, diz o diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo.
Os brasileiros já devem aos bancos o equivalente a 25% do Produto Interno Bruto (PIB), conforme a autoridade monetária. Cerca de 63% das famílias estão endividadas. A inadimplência parou de cair, sustentando um patamar de 7,5%. Os juros subindo, para tentar conter a inflação, vão encarecer os empréstimos ao consumidor. E o dólar volátil ainda pode piorar a situação. Diante desse cenário, não há outra alternativa senão pisar no freio.