Jornal Correio Braziliense

Economia

FMI vê o fim da recessão na Espanha, mas faz alerta sobre o desemprego

O desemprego alcançou 27% e a economia se contraiu durante sete trimestres

MADRI - O Fundo Monetário Internacional (FMI) considerou nesta quarta-feira (19/6) que a contração econômica na Espanha "poderia terminar em breve", apesar de se mostrar preocupado pelo alto desemprego do país, pedindo uma redução de salários para resolvê-lo.

"Apesar dos sinais de que a contração da economia pode terminar em breve, as perspectivas continuam sendo difíceis", destacou o FMI em um relatório sobre a quarta maior economia da zona do euro.

"O desemprego permanece inaceitavelmente alto, o que exige atuações urgentes para gerar crescimento e emprego, tanto por parte da Espanha como da Europa", completa.

"O desemprego alcançou 27% e a economia se contraiu durante sete trimestres, por causa da desalavancagem do setor privado, a consolidação fiscal e a rigidez do mercado de trabalho", disse o organismo internacional, que prevê uma volta ao crescimento do país durante 2013.

"Em nosso cenário central, esperamos que o crescimento comece a ser positivo neste ano e que se recupere gradualmente até cerca de um por cento no médio prazo", escreveu o FMI, apesar de alertar que isso será acompanhado de "melhoras limitadas em termos de emprego".



"Historicamente, a Espanha nunca criou emprego com um crescimento inferior a 1,5%", lembrou em uma coletiva de imprensa em Madri, James Daniel, chefe da missão do FMI no país: "faz falta um crescimento mais forte ou mais favorável ao emprego".

Neste sentido, Daniel apontou que "deveria haver mais equilíbrio entre a moderação salarial e a destruição de empregos, para que o ajuste incida mais no nível dos salários e menos no número de postos de trabalho", disse, pedindo uma redução dos salários em um país onde o salário mínimo é de 645 euros.

A Espanha, em recessão desde o fim de 2011, provocou grande preocupação nos mercados em 2012, que, com taxas muito elevadas exigidas para financiar a dívida deixaram o país à beira do resgate europeu.

Mas a ajuda se limitou finalmente ao setor bancário, que recebeu um empréstimo de 41,3 bilhões de euros para a reestruturação.

O resultado, segundo Daniel, é que "o sistema bancário é muito mais sólido que há um ano". Mas "o crédito está se contraindo de forma pronunciada e as taxas de juros dos empréstimos continuam sendo muito elevadas", alerta o organismo.

"Os bancos deveriam continuar reforçando seus balanços para poder oferecer crédito", sugeriu Daniel.

Um ano depois do resgate bancário, o governo conservador de Mariano Rajoy, no poder desde o final de 2011, multiplica as mensagens otimistas.

O ministro da Economia, Luis de Guindos, afirmou na terça-feira que a economia espanhola "está deixando a recessão para trás". No dia anterior, seu homólogo da Fazenda, Cristóbal Montoro, afirmou que o país estava "saindo da crise" especialmente graças ao saneamento das contas públicas.

"O forte progresso das reformas está ajudando a estabilizar a economia, e os desequilíbrios externo e fiscal estão sendo corrigidos rapidamente", disse o FMI em seu relatório.

"Constatamos uma enorme melhora quanto à política reformista em relação a quando estivemos aqui no ano passado", reconheceu diante da imprensa, Ranjit Teja, diretor geral do departamento da Europa do FMI, apesar de destacar que "ainda há muito a fazer".

O organismo insistiu que "as perspectivas exigem elevar o esforço de reformas".

"As políticas da zona do euro devem oferecer muito mais apoio, mas a Espanha precisa cumprir com seu programa anunciado e, de fato, ir mais além em algumas áreas", diz o FMI, para quem "o eixo deveria ser uma estratégia favorável ao emprego que permita à economia crescer e gerar emprego".

Ainda assim, o FMI não dá opção à Espanha a renunciar ao esforço de rigor orçamentário com o qual pretende reduzir seu déficit de 7% do PIB em 2012 a 5,5% em 2014: "o déficit permanece muito alto e insustentável", destacou Daniel.

"A consolidação fiscal deve ser aplicada forma gradual" para não frear o crescimento econômico: "o ajuste deve ser tão suave como possível", disse.