Washington - Cinco anos após o início da crise, o FMI advertiu nesta terça-feira (16/4) para a fragmentação crescente da economia mundial, dividida entre o dinamismo dos países emergentes, a resistência dos Estados Unidos e o afastamento preocupante da Eurozona. "Estamos em uma situação melhor (...) mas não estamos fora de perigo", disse o economista-chefe do FMI, Olivier Blanchard, em uma coletiva de imprensa.
Este cenário se traduz em números: o Produto Interno Bruto (PIB) mundial foi revisado em baixa neste ano a 3,3%, abaixo dos 3,5% previstos em janeiro, segundo o relatório semestral do FMI, divulgado às vésperas de sua assembleia-geral desta semana em Washington.
Sem ser uma surpresa para ninguém, a Eurozona continuou sendo a principal preocupação para a instituição de Washington, que espera agora uma recessão maior (-0,3%).
"A má sequência da Eurozona é preocupante", afirmou Blanchard, que citou as dificuldades das empresas e dos particulares para ter acesso ao crédito na periferia da região e a grande incerteza sobre a situação de alguns bancos.
No momento em que vários países receberam planos de ajuda externos, o FMI expressou sua preocupação de com uma fadiga ligada à austeridade imposta em troca dos resgates.
"Se um país tem a opção, é preciso considerar se algo pode ser feito para reduzir o ritmo de saneamento fiscal com o objetivo de manter a credibilidade, mas sem um impacto excessivo sobre a demanda", disse o funcionário, em referência à necessidade de que o Reino Unido revise sua política de rigor.
Segundo o relatório do Fundo, os riscos são provenientes principalmente da evolução da Eurozona, sobretudo dos acontecimentos futuros no Chipre e da situação política na Itália.
O polêmico plano internacional de resgate do Chipre, do qual o FMI participa, aparece como altamente arriscado, enquanto a Itália segue sem poder formar um governo estável.
Uma economia "a três velocidades"
O FMI se preocupa com o fosso cada vez maior que está sendo criado entre os países da Eurozona, que pode complicar a possibilidade de uma coesão maior.
Mas este não é o único risco: a Eurozona, única em recessão no mundo, se desvincula cada vez mais do resto do mundo, complicando a cooperação entre os países e a busca de soluções globais.
"O que até agora era uma recuperação a duas velocidades, uma rápida entre os países emergentes e outra mais fraca entre as economias avançadas, está se tornando uma recuperação a três velocidades", disse Blanchard, referindo-se às diferenças de crescimento entre a Eurozona e os Estados Unidos.
Enfraquecido pelos cortes orçamentários automáticos, os Estados Unidos devem, de qualquer forma, avançar neste ano (crescimento de 1,9%, uma queda de 0,2%), segundo o FMI, graças à "demanda interna robusta" da primeira economia mundial.
A instituição considera inquietante que o país não tenha produzido um plano confiável de redução do déficit, enquanto considerou que um acordo político para aumentar o teto da dívida deve ser alcançado rapidamente para evitar um default.
Os grandes países emergentes não são um problema. Apesar de um crescimento revisado para baixo em países como China (8,0%) ou Brasil (3,0%), essas economias devem prosseguir com sua expansão em 2013 e continuar sendo os principais motores da economia mundial. "A China retornou a um ritmo de crescimento saudável", considerou o fundo.
A instituição vê uma exceção no norte da África e no Oriente Médio pelas transições políticas que devem diminuir o crescimento da atividade destas regiões em comparação com 2012.
América Latina e Caribe crescerão 3,4% neste ano, 0,2% ponto a menos do que o previsto em janeiro, mas as perspectivas para a região se tornam mais otimistas, de acordo com o relatório.
Por outro lado, o FMI comemorou que certos desequilíbrios mundiais tenham diminuído, ao julgar exagerada a hipótese de uma guerra cambial. "O dólar e o euro parecem estar ligeiramente sobrevalorizados, enquanto o iuane chinês parece estar moderadamente subvalorizado", escreveu o Fundo.
Num momento em que o Japão flexibilizou sua política monetária, o FMI defendeu novamente as medidas adotadas pelos bancos centrais para lutar contra a crise (baixa das taxas de juros, injeções de liquidez).