Agência France-Presse
postado em 05/03/2013 15:12
Bruxelas - A União Europeia (UE) espera aprovar em breve o acordo de compromisso que fixará um teto para os astronômicos bônus que os banqueiros recebem, apesar das objeções do Reino Unido. "Vou propor que o compromisso irlandês (alcançado na semana passada no Parlamento Europeu) seja adotado", anunciou o ministro irlandês de Finanças, Michael Noonan, em sua chegada a Bruxelas para uma reunião com seus homólogos da UE, em que o assunto é o principal tema da agenda."Os britânicos sempre tiveram um problema com os bônus dos banqueiros, mas não vamos dar muito espaço para eles nos debates", destacou o ministro, cujo país exerce a presidência semestral da UE.
A Eurocâmara e Irlanda alcançaram um acordo - chave para que entre em vigor o tratado internacional de regulação bancária Basileia III - que prevê um teto aos bônus que os grandes bancos oferecem a seus diretores, uma das medidas mais reivindicadas para evitar outra crise financeira.
A diretriz deve ser aprovada por maioria qualificada. Apenas o Reino Unido, que abriga a "city", a maior praça financeira europeia, se opõe, apesar de não ter poder de veto. Londres teme que as limitações aos salários deixem seus centros financeiros em clara desvantagem. "Trata-se de fixar as remunerações dentro de um marco razoável", afirmou a ministra austríaca Maria Fekter.
O acordo - que deve ser aprovado pelo Parlamento e os governos nacionais - estabelece que o bônus jamais poderá exceder o salário fixo que o banqueiro recebe, exceto se os acionistas concordarem em elevá-lo até o equivalente a dois anos de salário fixo.
A medida segue o exemplo da Suíça, onde 67,9% dos eleitores aprovaram domingo, em referendo, uma iniciativa para limitar as "remunerações abusivas" dos diretores de empresas.
A Espanha se manifestou a favor de um teto dos salários dos diretores dos bancos, mas também pediu uma margem de manobra aos acionistas. "Nos parece muito bom pôr limitações, mas a junta de acionistas deve ter algo a dizer", disse o ministro espanhol da Economia, Luis de Guindos. Os acionistas "devem decidir a remuneração total dos banqueiros e estabelecer limitações às mesmas", informou.
Os salários milionários e os altos bônus dos grandes executivos dos bancos estiveram no centro das atenções desde que estourou a crise financeira de 2008, após o colapso do Bear Stearns e Lehman Brothers.
Um dos casos mais emblemáticos foi o de Lloyd C. Blankfein, conselheiro delegado de Goldman Sachs, que com um salário anual de 600 mil, recebeu, em 2006, bônus de quase 44 milhões de dólares (deles 27,2 milhões líquidos, 15,6 em ações preferenciais e o resto em opções preferenciais). Como muitos de seus colegas, o bônus superava amplamente seu salário anual, segundo um relatório da própria companhia.