Madri - A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, realizou nesta segunda-feira (19/11) uma visita oficial à Madri, com o declarado objetivo de retomar uma relação considerada estratégica com a Espanha e fortalecer o comércio e os investimentos para sustentar o crescimento econômico de ambas as partes.
A presidente manteve pela manhã uma longa reunião com o chefe do governo espanhol, Mariano Rajoy, no Palácio de la Moncloa, antes de participar de um almoço com o rei Juan Carlos I e com a rainha Sofia.
"O presidente Rajoy e eu tivemos um diálogo franco e produtivo sobre o estado de nossas relações bilaterais e consideramos que as relações entre Brasil e Espanha vivem agora um momento promissor", disse Rousseff em uma coletiva de imprensa após sua longa reunião com Rajoy.
Espanha e Brasil firmaram um acordo de associação estratégica em 2003, mas desde então diversos incidentes migratórios entorpeceram os entendimentos e a fluidez das consultas e o aprofundamento da crise na Espanha afetou também o fluxo comercial.
Segundo Dilma, espanhóis e brasileiros têm "interesses recíprocos no aprofundamento do diálogo, do intercâmbio e da cooperação, e querem aproveitar melhor o potencial dessa cooperação". Em referência a um dos temas mais delicados da relação bilateral, a presidente registrou "com satisfação os progressos alcançados no tratamento dado aos brasileiros na Espanha. Os entendimentos alcançados nos últimos meses têm tido efeitos positivos".
Dilma e Rajoy aprovaram também uma Declaração Conjunta de 11 páginas, que inclui um capítulo sobre "Assuntos migratórios", no qual felicitam os avanços conseguidos e planejam formas de "facilitar a residência" para cidadãos dos dois países.
Em seu discurso, Rajoy deixou claras as razões desta aproximação com o Brasil: o gigante latino-americano é o principal destino dos investimentos espanhóis na América Latina e o segundo no mundo. "O Brasil representa quase a metade de todo nosso investimento na América Latina", afirmou.
A visita de Rousseff a Madri, disse Rajoy, "culminará na reativação do diálogo político bilateral e assenta as bases para uma frutífera cooperação. O Brasil é uma potência do presente e a Espanha aposta no Brasil mais do que nunca".
Esta reaproximação ficou também selada com a condecoração de Dilma com o "Colar da Ordem de Isabel, a Católica", por "favorecer as relações de amizade e cooperação" de Espanha com o restante da comunidade internacional.
O encontro com Rajoy também permitiu a Dilma expressar o apoio do gigante sul-americano ao euro, que a presidente definiu como "uma grande contribuição que a Europa deu ao mundo".
A conjuntura, disse Rousseff, impõe "a afirmação da importância do euro não só para a Europa, mas também para o resto do mundo. Por isso a especulação contra o euro tem que ser combatida e não pode ser objeto de considerações apenas dos mercados".
Nesse sentido, afirmou Dilma, as conversações com Rajoy se concentraram também na situação na Europa, mas a presidente destacou que em nenhum momento teria a "pretensão de dar uma receita à Espanha" sobre como deve atuar no enfrentamento da crise financeira.
"Creio que a Europa tem todas as condições de sair da crise e espero que não sejam adotadas políticas pouco pragmáticas", disse Dilma, que se referiu ao desemprego como "a fase mais crítica" da crise, porque traz consigo "o aumento das desigualdades".
Os dois líderes também analisaram a possível participação de empresas e capitais espanhóis em diversos projetos de infraestrutura no Brasil, como a construção da linha de trem de alta velocidade entre o Rio de Janeiro e São Paulo, ou participar na logística de eventos como a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016.
Antes de deixar a Espanha, Dilma tinha previsto também fazer uma apresentação sobre a atual conjuntura econômica brasileira em um seminário organizado por jornalistas brasileiros e espanhóis.