Jornal Correio Braziliense

Economia

Crise econômica pode levar à greve geral empresas de comunicação portuguesa

Em Portugal, quatro dos principais grupos de comunicação do país ; veículos públicos e privados ; ameaçam entrar em greve, por período indeterminado, devido a medidas de austeridade adotadas pelo governo. As autoridades portuguesas adotaram as medidas na tentativa de conter os efeitos da crise econômica internacional que atingem o país, afetando a economia com aumento da inflação e do desemprego.

O movimento ocorre há menos de um mês de uma paralisação geral que atingirá não só Portugal, como a Grécia e a Espanha. Sindicatos de vários setores profissionais, que atuam na área de comunicação, marcaram para o dia 14 de novembro a data para uma greve ampla em protesto às medidas de austeridades adotadas como meio de reagir à pressão econômica.


Os jornalistas da agência Lusa, que é a empresa pública de notícias de Portugal, decretaram paralisação temporária até domingo (21/10). Os jornalistas protestam contra o corte de 31% da dotação orçamentária a ser paga pelo governo no próximo ano pelos serviços prestados pela agência (de capital misto, 51% do Estado).

Também em greve, os profissionais de imprensa do jornal público protestam contra a recente demissão de 48 empregados ; 28 jornalistas de um total de 120. Funcionários, incluindo jornalistas e radialistas, da estatal Rádio e Televisão de Portugal (RTP) observam com desconfiança as sinalizações das autoridades em privatizar as emissoras públicas de comunicação ; oito emissoras de TV e 16 de rádio.

Os veículos estão temerários, inclusive, quanto à possibilidade de privatizações. Há desconforto também no jornal Diário de Notícias. O Sindicato dos Jornalistas de Portugal acompanha as negociações da suposta venda do veículo (do grupo português Controlinveste) para um grupo angolano cujo nome é preservado em sigilo.

;Estamos acompanhando com o maior interesse, mas não sabemos se está concretizado;, disse à Agência Brasil o presidente do sindicato dos jornalistas portugueses, Afonso Maia. Segundo ele, o processo não tem sido transparente e nenhum grupo privado estrangeiro assumiu ter feito proposta de compra. ;Não aceitamos que passe a ser de um capitalista sem rosto.;

Porém, a Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), o equivalente à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que monitora os meios de comunicação, não confirma a negociação entre o comando do Diário de Notícias e os angolanos.

Para Afonso Maia, os veículos de fato passam por dificuldades econômicas e financeiras. Além da crise, que enxuga o Orçamento do Estado e reduz os anunciantes (especialmente nos veículos impressos), há uma série de mudanças estruturais em curso.

Em Portugal, os jornais passam por mudanças de leitura ; os leitores estão migrando para o noticiário online ; e de gestão, causadas por falhas nas estratégias de distribuição dos impressos (com perda de assinantes e venda em banca) e por convergência de mídia (falta de retorno dos custos operacionais para funcionamento dos veículos na rede).

[SAIBAMAIS]O presidente do sindicato observa, no entanto, que as demissões de jornalistas em Portugal é seletiva e afeta mais aos jornalistas mais antigos (com salários maiores). ;Isso é uma perda irreparável;, lamentou. ;Uma importante capacidade de trabalho está sendo descartada. As redações [dos meios de comunicação] devem ser inter-geracionais [relativo às relações entre gerações];, defendeu.

Afonso Maia acrescentou ainda que a maioria dos trabalhadores do setor de comunicação deverá cruzar os braços em novembro. No próximo dia 14, está prevista uma greve geral de trabalhadores em Portugal, na Grécia e Espanha ; países mais afetados pela crise econômica na zona do euro.

Além dos problemas do setor, a mobilização se somará a uma série de protestos iniciados ainda no primeiro semestre em Portugal contra as medidas fiscais exigidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Central Europeu (BCE), e a União Europeia (UE).

Ao longo deste mês, o governo foi criticado em mais de um ato público por ter encaminhado à Assembleia da República (Congresso Nacional) uma proposta orçamentária que aumenta impostos em várias faixas de contribuição.