O governo está atento ao endividamento das famílias proporcionado pela facilidade de crédito, diminuição de juros, aumento do poder aquisitivo e ascensão de 38 milhões de brasileiros à chamada nova classe média.
Segundo o ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Moreira Franco, ;o governo não vai interferir;, mas vai cuidar para que as famílias ;não se endividem além da possibilidade;. Em sua opinião, o endividamento não está em patamar ;excessivo;, as pessoas gastam ;conforme as suas necessidades; e há um bom volume de poupança, ;35% da classe média está poupando;, garantiu.
Perguntado se o governo estaria estimulando muito o consumo de automóveis e motos e se não haveria gastos em excesso com itens considerados supérfluos, como cosméticos, em vez de maior investimento das famílias em educação, o ministro respondeu que o incremento do consumo de carros é natural pela ;falta de estrutura de transporte de massa; e destacou que a elevação de gasto com cosméticos é consequência da maior participação das mulheres no mercado de trabalho.
O ministro admitiu, no entanto, que é necessário melhorar a qualidade do ensino no Brasil. ;A escola não vem atendendo com qualidade ao que o mercado de trabalho exige;, criticou antes de ponderar que será necessário aumentar os gastos no sistema educacional público a ponto de absorver um aumento de demanda de 30 milhões de pessoas. ;A estrutura de gasto deverá ser proporcional à força de entrada [da população ascendente] na classe média.;
Durante o programa, Moreira Franco rebateu as críticas de especialistas que consideram errado chamar o grupo social emergente de nova classe média. ;O critério [de classificação] é renda, de acordo com a realidade brasileira;, disse ao lembrar que apenas 10% da população tem renda familiar per capita acima de R$ 1,7 mil (e 0,3% acima de R$ 10 mil).
[SAIBAMAIS]O ministro defendeu o critério usado pelo governo, de situar a classe média no intervalo de renda mensal per capita de R$ 291 a R$ 1.019, destacando que ele está ;calibrado; com a realidade internacional. ;Somente 18% da população mundial vive [com renda] acima de R$ 1.019;, reforçou. Franco destacou que a classe média no Brasil é responsável por deixar R$ 1 trilhão no mercado de consumo ; o que pode estimular aumento da produção interna e do emprego.
Para o governo, o principal fator de ascensão social é o aumento da renda, face ao ;ganho real; dos salários e a ;inflação controlada;. ;A classe média não é resultado só das políticas assistenciais. O crescimento [do estrato social] é consequência do aumento da renda do trabalho.;
O ministro elogiou o foco do programa Brasil Carinhoso que irá priorizar o atendimento e o aumento de renda das famílias com crianças. ;No Brasil, os mais pobres são as crianças; os idosos são mais ricos;, disse ao explicar que o sistema de proteção social (desenhado desde a Constituição Federal de 1988) ampara melhor os idosos.