Bruxelas - O chefe do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, disse nesta segunda-feira (3/9) que o organismo tem a "responsabilidade" de intervir nos mercados da dívida, três dias antes de revelar seus planos sobre uma possível compra da dívida soberana de Itália e Espanha, decisivos para o futuro da Zona Euro, disseram eurodeputados.
"Draghi defendeu o programa do BCE de compra de bônus a médio prazo (de até três anos) nos mercados secundários, ante a Eurocâmara em Bruxelas, com a finalidade de aliviar a carga dos países que pior se financiam nos mercados", disse um eurodeputado, que pediu o anonimato.
As declarações avivam as expectativas de que na quinta-feira o presidente do BCE anunciará um novo plano de compra de dívida pública para rebaixar a pressão sobre Itália e Espanha, que pagam taxas muito elevadas por financiamentos nos mercados.
O ministro espanhol de Economia, Luis de Guindos, por sua vez, disse que o BCE "atuará em consequência" frente a crise do euro. "Draghi já disse que poderia intervir no mercado secundário comprando dívida dos países mais frágeis da Zona Euro, como Espanha e Itália", disse o ministro.
A França, segunda maior economia da Zona Euro, apoia essa ideia, ante a enorme defasagem entre as taxas através das quais se financia a Alemanha, tida como o emissor mais confiável, e outros países como Espanha ou Itália, quarta e quinta economias do bloco.
A Alemanha, no entanto, se opõe. O ministro alemão de Finanças, Wolfgang Schauble, reafirmou a posição de Berlim de que as "dívidas dos Estados não devem ser financiadas pelo BCE".
A Espanha disse em repetidas ocasiões que quer examinar "as medidas não convencionais" do BCE antes de se pronunciar sobre uma solicitação de resgate, o que já é tido como certo desde que a Eurozona disponibilizou um plano de assistência de até 100 bilhões de euros ao setor bancário espanhol.
No Parlamento Europeu desta segunda-feira também estiveram presentes os comissários de Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn; de Mercado Interior e Serviços Financeiros, Michel Barnier; e de Competitividade, Joaquín Almunia.
A ideia é redefinir um dos pilares da nova arquitetura europeia: a união bancária, com a criação de um supervisor bancário único, pois a Comissão Europeia quer que o BCE tenha um papel chave na supervisão de todas as entidades da Eurozona. A Alemanha, no entanto, se opõe e prefere dar a Draghi apenas o controle dos grandes bancos, considerados sistêmicos.
"Tenho minha dúvidas de que isso (a supervisão bancária) poderá chegar tão rápido" disse Schauble.
A Comissão Europeia quer apresentar uma proposta de união bancária dia 12 de setembro, o mesmo dia em que seu presidente, José Manuel Barroso, fará um discurso sobre o estado da União.
Acelerar a supervisão bancária sob a égide do BCE é fundamental para a Espanha, dizem especialistas, pois uma vez que o instituto monetário tenha controle sobre os bancos da Zona Euro, eles poderão ser resgatados diretamente, evitando engrossar a dívida dos países.
Imersa em meio a recessão e o desemprego, a Espanha deve cumprir a meta de reduzir seu déficit a até 6,3% do PIB neste ano e a 2,8% em 2014.
Tais dados têm elevado a pressão sobre Rajoy para que solicite o quanto antes um resgate financeiro "brando" ao BCE, ante os pesados vencimentos da dívida aos quais deverá fazer frente em outubro e à desastrosa situação de suas contas nacionais e das regiões.
"Os europeus não podem nem devem dividir-se entre ganhadores e perdedores. Ou ganhamos todos ou perdemos todos", advertiu o comissário europeu de Assuntos Econômicos e Monetários, Olli Rehn.
Segundo Rehn, também é preciso minar a ideia de que alguns ganham à custa de outros. "Infelizmente, já vemos alguns inquietantes sinais de que isso é o que está acontecendo", disse.
Ao mesmo tempo, fontes europeias afirmaram que ainda existem vários fatores nebulosos e o governo de Rajoy deve clareá-los.
"A reunião informal dos ministros de Finanças da União Europeia em Chipre (de 14 e 15 de setembro) servirá para que a Espanha diga de uma vez por todas o que quer", disse uma fonte.
Mais uma vez o tempo se aperta para a Europa. Contudo, agora não é a Grécia, mas sim a Espanha, que representa 12% do PIB da Zona Euro, que preocupa.