Brasília ; O economista Marcelo Cortes Neri, nomeado nessa segunda-feira (27/08), como novo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) quer que o instituto preste mais assessoramento ao governo e volte sua capacidade técnica de análise social e macroeconomia para a elaboração de políticas públicas.
;O grande objetivo do Ipea é servir melhor o Brasil através das políticas públicas;, disse à Agência Brasil. ;Uma demanda grande do Ipea está presente no desenho, operacionalização e avaliação dessas políticas. Não que o instituto não faça isso, acho que dá para fazer mais e melhor;, assinalou.
Neri, que diz estar "bastante motivado", ressaltou que a independência intelectual do órgão ;é uma tradição; e quer ;unir os excelentes quadros; técnicos do Ipea, ;que equivalem a cerca de dez departamentos de economia das universidades;, em torno de um projeto: ;uma abordagem plural que torne a diversidade uma virtude, um meio para atingir objetivos maiores.;
Especialista em desigualdade social, autor de livro sobre a chamada nova classe média e dedicado ao desenho de programas locais de combate à pobreza, Marcelo Neri prometeu não impor concepções, mas ser um ;instrumento; para levar as propostas do instituto ao governo. ;Meu desafio pessoal não será defender as minhas ideias, mas ser um veículo para que a ideia das pessoas possa chegar aos ministérios.;
Perguntado pela Agência Brasil, se avaliava que a dinâmica da distribuição de renda, verificada na última década, estava se esgotando e era preciso rever alguns componentes (como a política de salário mínimo) e alguns limites estruturais (como a distribuição da carga tributária), Neri admitiu que ;são duas questões-chave presentes no debate; e o momento é de avaliar.
;A gente já tem uma regra do salário mínimo instituída, mas é importante pensar nessa regra no futuro. A questão tributária também é importante. Eu tenho vontade de estudar, a partir dos dados dos impostos, não só regressividade e progressividade, estudar as altas rendas a partir do pagamento do imposto de renda;, disse ao salientar que o debate já é feito em think tanks (organizações que pensam sobre políticas públicas) da França e da Inglaterra.
Neri defendeu que o instituto continue a fazer pesquisas de opinião sobre a percepção da população a respeito de problemas sociais, como atendimento à saúde e segurança pública. Para ele, as pesquisas de percepção, iniciadas por seu antecessor Marcio Pochmann (2007-2012), são ;agenda importante e complementar; ao trabalho tradicional do Ipea.
;Perguntar às pessoas o que elas acham, de uma forma sistemática e bem feita, pode agregar valor. São coisas que a análise econômica em geral não contempla.;
Ele ponderou que uma alternativa para viabilizar essas pesquisas seria uma parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). ;O natural seria o IBGE desenvolver esse tipo de levantamento sobre percepções das pessoas. Agora, o IBGE tem uma agenda grande e longa e vai precisar de recursos para isso;, considerou.
;A parceria Ipea e IBGE sempre funcionou muito bem, como fazer funcionar melhor seria a minha primeira opção;, acrescentou.
Desde a preparação do governo (final de 2010) da presidenta Dilma Rousseff, Marcelo Neri discute a elaboração de políticas sociais.
A cerimônia de posse de Neri deverá ocorrer após o feriado de 7 setembro, em Brasília. Ele é o 24; presidente a assumir o Ipea (onde já trabalhou entre 1995 e 1999). Antes da nomeação, o economista chefiava o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.
Neri é PhD em economia pela Princeton University, onde defendeu tese sobre o mercado de trabalho brasileiro (1996).