Apesar dos nove meses com a inflação perdendo ritmo, da economia patinando, do corte de juros e das medidas de desoneração fiscal em vários setores, os preços de produtos manufaturados no Brasil %u2014 de duas a três vezes maiores que no exterior %u2014 contrariam leis de mercado e resistem a cair. A razão disso está no fato de que nunca foi tão caro produzir no país, resultado da combinação de fatores diversos, alguns com raízes históricas, como a burocracia e a pesada carga tributária de 38% do Produto Interno Bruto (PIB). A crise internacional escancarou dificuldades que minam a competitividade brasileira no mercado global, com destaques recentes para a disparada dos custos de energia e da mão de obra. A conta disso tudo vai bater no bolso do consumidor.
O próprio governo reconhece esse diagnóstico, tanto que vai anunciar no próximo mês a ampliação do número de setores industriais contemplados com o programa especial de redução de encargos sobre a folha de pagamento, além dos 15 já beneficiados, e uma ousada remoção de penduricalhos que encarecem a conta de luz. Na última quinta-feira, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o governo vai eliminar as contribuições setoriais das tarifas de energia elétrica, proporcionando uma redução de 10% ou mais no valor final.
%u201CTributamos muito onde não deveríamos tributar. Damos tiros no pé ao onerar os fatores de produção, o capital, o trabalho e os insumos essenciais como eletricidade%u201D, avalia Mauro Borges, presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Ele acredita que o Planalto já tem traçada uma agenda de reformas estruturais com foco na competitividade da indústria brasileira, mas ressalta que, apesar da urgência, ela levará muito tempo para atingir todos os objetivos, além de depender da adesão dos governos dos estados.