Madri - O novo ajuste de 65 bilhões de euros anunciado pela Espanha na quarta-feira (11/7) deverá de fato ajudar a reduzir seu déficit público, mas pode gerar ao mesmo tempo um prolongamento da recessão para até 2014, alertam analistas de mercado.
Após conseguir que Bruxelas prorrogasse o prazo para cumprir com o objetivo de redução do déficit, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, anunciou na quarta-feira (11/7) mais um pacote de medidas de austeridade, conforme pedido pela União Europeia (UE). Entre estas medidas está a alta do IVA, de 18 para 21%, uma redução do seguro-desemprego, a queda do salário de funcionários públicos e a eliminação da dedução por moradias. Ao anunciar estas medidas, Rajoy disse que a economia se contrairá cerca de 2% este ano e reconheceu que a maioria dos analistas aponta que a recessão continuará em 2013.
O economista Edward Hugh, de Barcelona, crê que estas medidas ajudarão a Espanha a cumprir com novos objetivos, agora menos exigentes, de redução do déficit, que deverá passar de 8,9% em 2011 para 6,3% este ano, 4,5% em 2013 e 2,8% em 2014. "Contudo, estas medidas agravarão a recessão espanhola este ano, garantindo provavelmente um crescimento negativo no ano que vem", diz Hugh.
O economista não descarta que as novas medidas levem a uma continuidade da recessão para até 2014, prevendo uma contração da economia de 2% este ano, de 1% em 2013 e de 0,3% em 2014. "Contudo, a Espanha poderá ser enormemente beneficiada pelo plano de ajuda da Eurozona para injetar capital diretamente aos bancos mais frágeis dos 17 países do euro e com a possível compra de bônus das economias com mais problemas do grupo", afirmou.
Para Hugh, a boa notícia é a recapitalização dos bancos, que é um marco na crise da dívida europeia por ser a primeira vez que se poderá compartilhar a dívida.
Segundo o porta-voz do Fundo Monetário Internacional (FMI), Gerry Rice, as novas medidas de ajuste anunciadas pelo governo da Espanha são difíceis, mas são passos na direção correta, sendo esta a mesma opinião dos economistas da Citi Research.
[SAIBAMAIS]No Memorando de Entendimento (MoU, na sigla em inglês) firmado com Bruxelas em troca de uma ajuda aos bancos espanhóis de até 100 bilhões de euros, a Espanha acordou que os bancos e seus acionistas assumiriam as perdas antes que o Estado lhes conceda ajuda. Contudo, ainda há dúvidas quanto a eficácia das medidas para que o governo espanhol volte a pagar taxas normais por sua dívida, dizem especialistas.
De acordo com relatório do Citi Research, as medidas de ajuste confirmam as previsões de que a recessão espanhola se agravará este ano e continuará em 2013. "As metas de déficit para este ano ficaram mais realistas para o Citi Research, mas as metas para 2013 ainda nos parecem muito ambiciosas", dizem os analistas.
A corretora espanhola Renta 4 ressaltou a importância da reunião desta quinta-feira entre o governo central e os 17 governos regionais, que contam têm dificuldades para financiarem-se nos mercados.
O mercado espera que o Executivo aceite a criação dos "hispanobônus", um fundo comum de dívida garantido por Madri em troca de uma maior vigilância de seus gastos.