O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta quarta-feira (4/7) que a crise econômica mundial será uma oportunidade para que o governo faça mudanças necessárias na economia. ;Vamos aproveitar para fazer ajustes importantes que, se não fosse a crise, nunca seriam feitos;, declarou durante seminário com lideranças empresariais na capital paulista. Ele aposta que medidas tomadas agora irão repercutir a longo prazo. ;Apresentamos uma série de medidas estruturais que terão efeito, não só em função da crise, mas para tornar a economia brasileira mais competitiva no futuro;, avaliou.
Mantega destacou mudanças nas políticas fiscal, monetária e cambial, como redução dos juros, dos spreads bancários (diferença entre as taxas pagas ao aplicador e as que os bancos cobram do tomador) e a alta do dólar. Ele ponderou, no entanto, que o impacto de algumas medidas ainda serão observados, como a desoneração da folha de pagamento, que passará a valer a partir de agosto.
;Isso é um processo que está ocorrendo e que ainda não teve tempo de mostrar os seus efeitos e as suas potencialidades;, ressaltou. Durante o evento, Mantega disse que essa medida de desoneração será ampliada para outros setores econômicos, além dos 15 setores industriais contemplados inicialmente.
O ministro aposta em um crescimento de 3% a 4% no segundo semestre de 2012. ;Este ano é como se fosse 2009. No meio do ano as coisas começaram a melhorar fortemente;, comparou. Mantega, no entanto, avalia que esse otimismo só irá se concretizar com a colaboração do mercado e do setor financeiro. ;Contamos com a ousadia dos empresários, fazendo investimentos, e do setor financeiro, que tem que liberar mais crédito e reduzir o spread. O governo fará a parte dele;.
Durante o seminário, promovido pela Federação das Indústria do Estado de São Paulo (Fiesp) e pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), Mantega recebeu um documento com propostas dos empresários para a aceleração do crescimento no país. Dentre as sugestões, as entidades indicaram a ampliação do prazo para recolhimento dos impostos. ;Hoje pagamos o imposto e somente depois recebemos o pagamento dos clientes. Isso daria um fôlego aos empresários e poderia recuperar a economia a curto prazo;, justificou Paulo Skaff, presidente da Fiesp.
Os empresários propuseram ainda medidas a médio prazo, como redução da tarifa de energia elétrica, dos juros e dos spreads bancários e, a longo prazo, foram propostas ações como investimentos em educação e infraestrutura. Para Mantega, no entanto, os empresários não devem esperar essas medidas para iniciar investimentos. ;Quem parte na frente, sai com vantagem;, incentivou.
O ministro avalia que as condições são favoráveis para a superação da crise no Brasil, o que permite um comportamento menos retraído do empresariado. ;Estamos em melhores condições do que em 2008. Nós temos mais reservas do que tínhamos naquela época. As empresas estão melhores. Não houve interrupção do crédito como tínhamos naquela época;, disse.
Mantega mostrou-se preocupado, no entanto, com a possibilidade de aprovação de medidas no Legislativo que, para ele, resultariam em uma instabilidade fiscal. Ele citou as propostas de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a educação e o fim do fator previdenciário. ;Temos uma excelente relação com o Congresso, mas têm esses conflitos;. Segundo o ministro, a aprovação dessas propostas colocaria em risco as contas públicas e poderia ;quebrar o Estado brasileiro;.