A Polícia Civil do Pará concluiu o inquérito sobre a destruição de 35 salas nos canteiros de obra da Usina Hidrelétrica de Belo Monte. A previsão é que, na próxima segunda-feira (2), o documento seja protocolado na 3; Vara Criminal de Altamira. Segundo, os 11 ativistas não índios que tiveram pedido de prisão preventiva solicitado por envolvimento na depredação se recusaram a falar no depoimento.
A depredação ocorreu no dia 16 de junho, em meio ao encontro Xingu%2b23, ocorrido em Altamira (PA), e organizado pelo Movimento Xingu Vivo para Sempre e o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Segundo a polícia, a depredação contou com a ação de índios da etnia Munduruku, de Mato Grosso, que não serão afetados diretamente pela obra.
De acordo com o Consórcio Construtor Belo Monte (CCBM), durante a ocupação, pelo menos 50 computadores foram quebrados, notebooks, celulares e radiocomunicadores foram furtados, dezenas de aparelhos de ar-condicionado foram danificados e móveis, documentos e projetos foram queimados. A estimativa, segundo o consórcio, é que o prejuízo ultrapasse R$ 500 mil.
Para justificar o pedido de prisão dos ativistas que, segundo a polícia, são ligados ao Cimi e ao Movimento Xingu Vivo para Sempre, foram apresentadas imagens, relatos testemunhais e laudos periciais que comprovariam o envolvimento dessas entidades na incitação à depredação. O material conta, também, com gravações feitas por policiais infiltrados no acampamento do Xingu%2b23.
;Não há dúvidas de que integrantes e assessores do Movimento Xingu Vivo encabeçaram esses atos criminosos. Entre os indícios, há filmagens e fotos de um assessor deles entregando, aos índios, as picaretas, pás e enxadas usadas na depredação. Essas ferramentas estavam em uma caminhonete Mitsubishi L-200 preta, alugada por uma missionária do Cimi. Temos inclusive o recibo da transferência bancária que registrou o pagamento da caminhonete, feito pelo próprio Cimi;, disse o superintendente regional da Polícia Civil em Altamira, delegado Cristiano Nascimento.
Outra prova apresentada pela Polícia Civil foi o depoimento de um estudante de Belém, que também participou do evento organizado pelo Xingu Vivo. Ele foi localizado com um dos celulares furtados durante a invasão. ;O estudante nos informou sobre o incitamento, feito por organizadores do Xingu%2b23, para o quebra-quebra;, disse o delegado. ;Tudo já foi repassado ao Judiciário, como justificativa para o pedido de prisão preventiva. Acredito que, em breve, a prisão será acatada pela Justiça porque contra fatos não há argumentos;, completou.
Tanto o Xingu Vivo quanto o Cimi negam qualquer incitação ao quebra-quebra, mas confirmam que os nomes do assessor e da missionária citados pela Polícia Civil são de integrantes seus e que a caminhonete, de fato, foi dirigida pelo assessor do Xingu Vivo para transportar ferramentas, mas com outros propósitos.
As duas entidades questionaram a isenção da Polícia Civil nas investigações. De acordo com a assessoria de comunicação do Movimento Xingu Vivo, prova disso é o fato de algumas viaturas policiais circularem na cidade com adesivos da Norte Energia, empresa responsável pela construção e operação da usina.
A assessoria do Cimi concorda e diz que ;esses adesivos são o símbolo de quanto o Estado está atrelado aos interesses de grupos econômicos privados;. Prova disso, acrescenta o Cimi, é que ;todas as condicionantes para beneficiar a polícia, que é o órgão opressor do Estado, foram cumpridas [pelo consórcio da usina], o que não se aplica às [condicionantes] relativas aos afetados pela obra;.
Segundo o superintendente da Polícia Civil, os adesivos não comprometem a investigação. ;Eles foram colocados apenas nas viaturas doadas como parte de um acordo de cooperação técnico-financeiro, previsto em condicionantes para a segurança pública como um todo. Não apenas para a Polícia Civil;, argumentou.
Sobre as imagens do assessor do Xingu Vivo usando a caminhonete alugada pelo Cimi para entregar as ferramentas usadas pelos índios na depredação, as duas entidades optaram por não comentar o assunto até terem acesso aos autos do processo. Mas, segundo Cristiano Nascimento, ;o despacho do delegado prova que os advogados já tiveram acesso ao processo;.
Os pedidos de prisão preventiva dos ativistas foram apresentados ao Judiciário, que concedeu vista para análise do Ministério Público. A expectativa é que o processo seja devolvido à Justiça na primeira semana de julho. Entre as acusações, estão formação de quadrilha, roubo, saque, danos à estrutura dos imóveis e invasão de propriedade privada. Também são acusados de dar suporte logístico para os índios, como transporte e estadia.