Madri - Em meio a uma maré de camisetas coloridas, dezenas de milhares de pessoas foram às ruas da Espanha, nesta quarta-feira (20/6), gritar sua insatisfação com as medidas de rigor, preocupadas com as consequências da ajuda aos bancos espanhóis e o temor de que o país precise de um resgate global.
A passeata tomou o central Paseo del Prado, em Madri, e a multidão avançou ao ritmo de tambores e trombetas até a célebre praça da Puerta del Sol.
Os manifestantes foram convocados pelos grandes sindicatos espanhóis, sob o lema Não Se Cale, Defenda Seus Direitos, para denunciar os cortes orçamentários contra a crise.
Os sindicatos convocaram manifestações em 60 cidades espanholas, que se somam a meses de protestos contra as medidas de rigor que o presidente do governo, Mariano Rajoy, considera imprescindíveis para a recuperação da confiança na economia, em um momento de forte tensão nos mercados.
Para reduzir a 5,3% do PIB o déficit espanhol, que, no ano passado, disparou para 8,9%, o Executivo optou por uma política de rigor que prevê um ajuste de 27,3 bilhões de euros.
Neste contexto, os sócios da Espanha no Eurogrupo concordaram, no último dia 9, em lhe conceder um empréstimo de até 100 bilhões de euros para recapitalizar seus bancos, fragilizados desde o estouro da bolha imobiliária, em 2008.
"Não acredito que este resgate irá produzir nenhum benefício para o cidadão", disse a professora do ensino fundamental María, criticando a decisão de se aumentar o número de alunos e diminiuir o de professores, para economizar. "Vai haver mais desemprego, precariedade e pobreza", em um país onde 24,44% da população economicamente ativa estão sem trabalho, assinalou.
Enquanto os líderes europeus discutem como evitar que a crise da dívida na Eurozona se propague para Espanha e Itália, a falta de informação sobre as condições da ajuda e seu impacto na dívida pública da Espanha agravou o temor de que Madri precise de um resgate soberano global.
"Rajoy não está dizendo de forma transparente o que irá acontecer com este resgate dos bancos, que, sem dúvida, será ampliado, porque não será suficiente", criticou María, que não quis informar seu sobrenome.
"O resgate não muda nada para nós, funcionários públicos, nem para os espanhóis", afirmou Miguel Angel Rodríguez, 45, um dos funcionários da Justiça que se uniram ao protesto. Ele não esconde sua preocupação, após o efeito do resgate na Grécia, que se viu política e financeiramente paralisada depois da ajuda internacional.
Para Miguel, o governo de Rajoy "esconde a verdade. Estão se aproveitando da situação para cortar e cortar", concluiu.