Da sala de reuniões contígua ao gabinete da presidência do Banco Central, Alexandre Tombini tem uma vista privilegiada de Brasília. É possível notar claramente o plano urbanístico da capital federal, magistralmente concebido por Lucio Costa. Em um plano oblíquo e linear, edifícios residenciais se harmonizam com áreas verdes até a cidade mergulhar em direção ao espelho do Lago Paranoá. A paisagem encantadora na manhã da última sexta-feira destoava do quadro desolador traçado pela presidente Dilma Rousseff em conversa com governadores, poucos quilômetros dali, no Palácio do Planalto. Taxativa, ela disse não ;ver luz no fim do túnel; para a crise que arrasa a Europa e atormenta o mundo. Dilma resumia o que, na visão de Tombini, está travando a economia brasileira: falta de confiança. Mesmo com todos os estímulos dados pelo governo ; corte de juros e redução de impostos ;, os consumidores preferem manter o pé no freio nos gastos. Entre os empresários, o sentimento é de que, neste momento, o melhor é deixar projetos de expansão industrial engavetados do que correr o risco de prejuízos mais à frente. Por isso, admite o presidente do BC, os efeitos dos benefícios dados pelo governo à economia vão demorar mais tempo do que o desejado para aparecer. Na tentativa de reverter a desconfiança e evitar que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) decepcione mais uma vez neste ano ; nos primeiros quatro meses, o avanço foi próximo de zero ;, Tombini dispara: ;Essa crise não é nossa; a crise é lá de fora;. Ele garante que, mesmo com o agravamento da situação na Zona do Euro, com a Espanha e a Grécia à beira de um colapso, o Brasil já atingiu o fundo do poço e, no início de 2013, terá recuperado as forças, puxado pelo emprego, renda, crédito e queda da inflação. O otimismo não impedirá, porém, o BC de revisar para baixo, no fim deste mês, a sua própria projeção para o PIB deste ano , atualmente de 3,5%. Tombini não faz projeções. Reforça, contudo, que, apesar de o consumo das famílias ser importante para o crescimento, será a retomada dos investimentos produtivos que dará a dinâmica da atividade econômica daqui por diante. Sereno e voraz por informação ; às 7h da manhã ela já se interou de todo o noticiário ;, Tombini assegura que o mesmo mercado que errou ao criticar o BC por ter se antecipado ao agravamento da crise internacional e cortado os juros vai se convencer da capacidade da economia brasileira de reagir. Posição semelhante ele tem em relação aos que ainda duvidam da possibilidade de seu time do coração, o Internacional, chegar à liderança do Brasileirão. ;O time vai pegar velocidade;, diz. E mais: na luta para garantir o barateamento do crédito, aconselha os órgãos de defesa do consumidor que sejam mais ativos na fiscalização das taxas de juros e das tarifas bancárias para denunciarem possíveis abusos. Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista que o presidente do BC concedeu ao Correio.Nos 12 meses terminados em abril, a economia cresceu apenas 1,55%. O que aconteceu? Por que o Brasil parou?O crescimento, e aí não é o Banco Central que está falando, é o mercado que está indicando, estará em 4,1% no último trimestre deste ano e rodando a 4,6% no primeiro semestre de 2013. Então, o crescimento vai acelerar ao longo deste ano. Com base em que eu digo isso? Com base no que a gente conhece de defasagem de política monetária, de política econômica. Desde o fim de agosto, estamos dando estímulos à economia, ajustando a política monetária (juros menores) para fazer frente a essa nova realidade. Há ainda os estímulos na área tributária (como a redução de impostos sobre carros e eletrodomésticos), que foram colocados no terceiro e quarto trimestres do ano passado. Temos uma série de fatores que apontam para um contínuo crescimento da demanda no país. Entre eles, o mercado de trabalho, que ainda gera 1,4 milhão de empregos, e a renda real, que cresce na faixa de 3%. Combinando a criação de empregos com a renda real, a massa salarial real avança na faixa de 5% em 12 meses. Portanto, temos fatores para sustentar a demanda interna.
O senhor diz que tudo aponta para o crescimento. Mas dados do próprio BC mostram uma economia estagnada, com expansão próxima de zero nos primeiros quatro meses do ano. Vários analistas estão jogando as projeções do PIB para baixo. O que o BC está vendo para ser otimista que o mercado não consegue enxergar?Estamos com a mesma história do ano passado. Só que, lá atrás, falávamos de inflação. E o que o BC está vendo que o mercado não vê? O que nós estamos vendo hoje é que (as vendas) do varejo desaceleraram de 12% para 7% em um período de 13 meses, mas ainda mantêm um crescimento elevado. Além disso, a inflação vem caindo consideravelmente. Do pico em setembro do ano passado, de 7,33%, baixou para 4,99% em maio. Isso está repercutindo. Não é à toa que a massa salarial real está tendo um ganho de 5% e empregos estão sendo criados.