Jornal Correio Braziliense

Economia

Gregos estão diante da posibilidade da volta da moeda dracma

Atenas - O tema já não é um tabu e, embora não seja inevitável, a saída da Grécia do euro para voltar ao dracma ou a uma moeda híbrida estão entre os possíveis desenlaces das eleições legislativas do próximo domingo. Como advertência, a chanceler alemã Angela Merkel, os presidentes dos Estados Unidos, Barack Obama, e da França, François Hollande, mostraram aos gregos os diferentes caminhos: ou seguem o caminho da austeridade ou saem do euro.

No próximo domingo os gregos voltam às urnas para entregar o poder à direita ou à esquerda radical, com discursos opostos, mas ambos ambíguos sobre o caminho a seguir. O líder conservador Antonis Samaras promete uma renegociação do memorando, o plano de rigor selado com os credores internacionais em troca de uma grande ajuda internacional de 347 bilhões de euros.

O chefe do Syriza, Alexis Tsipras, por sua vez, quer sua anulação. Os dois garantem que a implementação de seu programa não terá efeito algum sobre a manutenção da Eurozona. Mas os cenários de um "Dia D", o dia em que o dracma pode reaparecer, depois de sair de cena em 2001 para a entrada do euro, circulam entre as capitais e os bancos através do mundo.

Alguns considerariam a situação catastrófica, palavra escolhida pelo ex-primeiro-ministro Lucas Papademos, ou preferível, como indicou o economista "profeta" americano Nuriel Rubini, mas todos os especialistas pegam as calculadoras.

O custo direto deste possível "Grexit" - acrônimo anglossaxão formado pela revista The Economist ao misturar as palavras "Greece" e "Exit" -, sem precedentes e não previsto pelos tratados europeus, desencadeou uma batalha de números: de 150 a 350 bilhões de euros, segundo o banco Barclay;s, o DeKaBank ou o UBS.

A fatura final, muito mais importante para os contribuintes europeus e para os gregos, resultará em uma equação com múltiplas incógnitas vinculadas à gestão da operação e à onda expansiva na Eurozona.

Um cenário fechado no início de junho pelo gigante bancário alemão Deutsche Bank detalha o que pode ser um período de altos riscos seguindo um default por parte da Grécia "tão em breve quanto o fim de junho ou o início de julho".

Não existe o "risco zero" de saída do euro, segundo este documento obtido pela AFP. Os riscos estão associados a um jogo de hipóteses baseado nos resultados das eleições de domingo.

No caso de uma coalizão fraca levada pela direita, com uma participação dos socialistas, o risco é considerado moderado. Torna-se elevado com uma coalizão de esquerda radical ou com um novo bloqueio político, como o ocorrido no dia 6 de maio.

"A curto prazo, o Euro Exit grego ainda pode ser evitado, mas o risco aumentou fortemente desde o dia 6 de maio". "As pré-condições já estão em andamento", afirma o banco, para quem sobram os potenciais "eventos desencadeantes".

O Deutsche Bank evoca em dez pontos um cenário de risco extremo, começando pela incapacidade por parte da Grécia de financiar seus déficits públicos, um default de fato.

O Parlamento grego se reúne então em sessão extraordinária em um fim de semana para legislar sobre o abandono do euro, e para tomar outras medidas capitais.

Um controle de capitais seria decretado para evitar as fugas de capitais ao exterior e uma corrida bancária. Em dois anos, elas perderam um terço de seus depósitos, que caíram aos 165 bilhões de euros no fim de março, contra os 237,5 bilhões no fim de dezembro de 2009.

Nesta hipótese, o Banco da Grécia recupera seu papel de base anterior ao Banco Central Europeu (BCE), com uma série de medidas reguladoras ou técnicas que realizar, entre outros, para os pagamentos eletrônicos.

Outra etapa consiste em emitir reconhecimentos de dívida "IOI" (I Owe You) para pagar funcionários, aposentados e credores, sobre o modelo do que a Califórnia fez em 2009.

Segundo o economista chefe do Deutsche Bank, Thomas Mayer, a Grécia pode ter assim uma moeda híbrida, com um IOU interno, batizado "Geuro", que permitiria ao país desvalorizar sem abandonar formalmente o euro.

Mas ainda que se desenhe um consenso em torno de uma desvalorização média de 50%, economistas como Nuriel Rubini pensam que a melhor opção é o retorno do dracma.