Bruxelas - A Alemanha rejeitou tacitamente nesta quinta-feira (24/5) a criação dos eurobônus como instrumento de reativação do crescimento, uma medida estimulada pela França e que tem ganhado adeptos na Europa - região em busca de soluções para uma desgastante crise, cujos holofotes estão sobre Grécia e Espanha.
Para a Alemanha, os eurobônus, uma emissão conjunta de dívida dos países da Eurozona recompensaria os países menos disciplinados e castigaria os bons alunos, que atualmente obtêm financiamentos mínimos nos mercados. O novo presidente francês, no entanto, pediu a seus sócios que a perspectiva dos eurobônus fique gravada na agenda da próxima reunião de dirigentes de 28 e 29 de junho. Segundo a chanceler alemã Angela Merkel, a crise não será resolvida com um remédio milagroso, mas sim com o resultado de um trabalho duro, baseado no rigor orçamentário e em reformas estruturais.
França e Alemanha estabeleceram na quarta-feira (23/5) as bases de sua relação, que consistirá em um jogo de interesses. Caso Hollande coopere com os esforços de Merkel para obter uma ratificação rápida na União Europeia (UE) ao pacto de disciplina orçamentária, a líder alemã acabará cedendo, considerou uma fonte. O presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, afirmou que a proposta voltará a ser debatida em junho. Para ele, os eurobônus formam parte de um plano de longo prazo que se iniciará na próxima reunião para fortalecer a união monetária.
[SAIBAMAIS]
Além de discutir sobre os eurobônus, os líderes da União Europeia reunidos em Bruxelas afirmaram na quarta-feira que desejam que a Grécia, foco da crise juntamente da Espanha, continue na zona do euro, mas advertiram que Atenas deve cumprir seus compromissos com o bloco. As declarações ocorrem após os países da zona do euro decidirem em Bruxelas preparar "um plano de contingência" para o caso da saída da Grécia do grupo.
O presidente do Banco Central Europeu (BCE), o italiano Mario Draghi, reconheceu nesta quinta-feira em Roma que a União Europeia vive um momento crucial de sua história e que se faz necessário um pacto para o crescimento que respeite também a disciplina orçamentária. Para que o processo de integração da Europa sobreviva, é preciso dar um grande salto, disse ele em uma coletiva realizada na Universidade de Roma, La Sapienza. Draghi reconheceu que a crise da dívida mostrou os pontos fracos do sistema e reiterou que é preciso um pacto para o crescimento econômico.
Esse pacto se basearia em reformas estruturais do mercado de trabalho e também em uma reativação dos investimentos públicas graças a maiores investimentos do BCE e a uma revisão da programação dos fundos estruturais europeus. Draghi foi convidado a realizar uma coletiva sobre o desaparecimento, ocorrido há 25 anos, do prestigiado economista italiano Federico Caffé, que apoiava um modelo que garantisse o emprego e a proteção e inclusão social.
Na chegada de Draghi à sede da Universidade Romana, um grupo de estudantes protestou contra a política de austeridade que está sendo imposta pela União Europeia e distribuiu falsas notas de 50 euros com os dizeres "Não à austeridade, não ao BCE".