Bruxelas - Os líderes da União Europeia (UE) se reúnem nesta quarta-feira (23/5) para discutir uma agenda de crescimento, sob a pressão de uma possível saída da Grécia do euro e com o desgaste dos bancos espanhóis.
Na agenda de discussões estão uma série de propostas de combate à crise, dentre os quais está a criação dos eurobônus - títulos lastreados pela zona do euro - e a possibilidade de que os fundos de resgate europeus (FEEF e MEE) possam recapitalizar diretamente os bancos.
"A zona do euro tem que fazer um esforço maior para estimular o crescimento", disse nesta terça-feira (22/5) a chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, um dia antes da cúpula europeia que debaterá medidas para tirar o continente de uma crise que, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE), formada por 17 países, ameaça a recuperação econômica mundial.
Essa cúpula era esperada com otimismo pelos mercados, com fortes altas nas bolsas, apesar das divergências sobre a emissão de títulos do euro, apoiada pela França, mas rejeitada pela Alemanha.
Segundo Lagarde, tem havido uma "grande melhoria" na maneira como os países da Eurozona administram a crise da dívida, mas é preciso fazer mais para respaldar o crescimento. Para a diretora, "as reformas estruturais são mais efetivas que os estímulos econômicos", disse ela nesta terça-feira, em uma coletiva de imprensa em Londres.
Um pedido mais que oportuno. A possibilidade de a Grécia sair do euro e de que a Espanha não tenha outro remédio a não ser pedir ajuda para recapitalizar seus bancos revolucionou a agenda europeia. Ambos os temas serão discutidos na cúpula informal dos vinte e sete chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE).
A cúpula estava dedicada, inicialmente, a orientar o foco das políticas oficiais rumo ao crescimento e não apenas rumo aos ajustes aplicados para equilibrar as contas públicas, que segundo muitos economistas estão agravando a recessão.
A OCDE alertou que a crise da zona do euro "se agravou recentemente e continua representando a principal fonte de risco para a economia mundial".
"Existe um risco crescente de círculo vicioso entre o crescente custo das dívidas soberanas, a fragilidade dos sistemas bancários, o excesso de consolidação fiscal e o baixo crescimento", alertou o economista chefe da OCDE, Pier Carlo Padoan.
A solvência dos bancos espanhóis se transformou em uma das maiores dores de cabeça dos responsáveis europeus e o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, deverá esclarecer essas dúvidas no jantar de quarta-feira.
Os bancos espanhóis emprestaram quantidades colossais de dinheiro antes do estouro da bolha imobiliária em 2008 e enfrentam atualmente 184 bilhões de euros em créditos de reembolso duvidoso, além de edifícios e terrenos confiscados em um mercado desvalorizado. No total, cerca de 60% de sua carteira.
As perspectivas para a Espanha, quarta economia da Eurozona, "continuam sendo ruins e correm o risco de piorar", disse a OCDE. Para sair do círculo vicioso, a Espanha tem que "perseverar nas políticas em que está trabalhando (...) e obter apoios e capacidade de fogo dos sócios europeus", declarou à AFP o secretário geral da OCDE, o mexicano Angel Gurría.
A Espanha descarta, contudo, no momento, pedir ajuda e sugere que o Banco Central Europeu (BCE) injete mais liquidez e compre as dívida dos países que cumprem com as medidas de austeridade.
Os líderes europeus debaterão medidas como a emissão de eurobônus, incentivada pelo novo presidente francês, o socialista François Hollande, que fará sua estreia em uma cúpula da UE. Mas a Alemanha, primeira economia da eurozona e maior contribuinte europeia, rejeitou esse projeto.
"É nossa posição firme e será a mesma em (na cúpula europeia) junho", disse uma fonte alemã. "Não é uma questão nova, acreditamos que é o caminho errado", acrescentou este responsável ao se referir a esse instrumento de financiamento da dívida, que teria uma taxa de juros única para todos os países da zona do euro.
A cúpula será realizada em um ambiente de pressões crescentes para que a Alemanha, principal potência econômica do bloco, flexibilize suas posições. A chefe do governo alemão, Angela Merkel, se disse surpresa com as críticas.
O debate sobre as medidas "dá, às vezes, a impressão de que para nós economizar é um prazer por si só", disse a chanceler em Berlim. "Mas trata-se simplesmente de não gastar mais do que ingressa, é surpreendente que uma coisa tão simples gere tantos debates", acrescentou.
As respostas que serão dadas a essas questões podem ser determinantes na permanência da Grécia na Eurozona.