Madri - A Espanha considera criar uma agência para reagrupar os ativos imobiliários de seus bancos, afirmou nesta segunda-feira (30/4) o Ministério da Economia. Segundo o jornal El Mundo, o Banco da Espanha já teria inclusive recorrido à mesma consultora que trabalhou em um caso similar na Irlanda.
O Ministério considera criar uma "espécie de agência através da qual vários bancos poderiam terceirizar seus ativos imobiliários considerados de maior risco", disse uma fonte do Ministério. "Contudo, o Estado não irá intervir", completou.
Segundo a mesma fonte, trata-se de permitir que os bancos voltem a sua atividade bancária, delegando a outra instituição a tarefa de vender estes bens, ficando livres assim para participar de investimentos estrangeiros.
De acordo com o jornal El Mundo, o Banco da Espanha teria recorrido à consultora BlackRock, que trabalhou no caso irlandês, para criar um "banco ruim".
O Banco também teria recorrido à companhia Oliver Wyman, segundo o jornal.
O banco central espanhol se recusou a fazer comentários sobre estas duas sociedades.
"É um estudo que ainda está um pouco cru, estão vendo que solução seria a mais apropriada para tirar os ativos imobiliários do balanço dos bancos. O que parece claro é que não será um ;banco ruim;, porque não haverá dinheiro público por trás", disse uma fonte de mercado.
O setor bancário espanhol é uma das fontes de preocupação para os mercados, fragilizados pelo estouro da bolha imobiliária em 2008. O Banco da Espanha revelou na sexta-feira que o setor acumulava 184 bilhões de euros em ativos imobiliários problemáticos ao final de 2011, ou seja, 60% de sua carteira.
A Standard and Poor;s alimentou essas preocupações na quinta-feira passada, ao reduzir em dois escalões a nota soberana da Espanha, de A a BBB%2b.
"Vemos uma probabilidade crescente de que o governo da Espanha precisará promover apoio fiscal ao setor bancário", o que ameaçaria o objetivo de redução de déficit, explicou a agência de classificação.
Nesta segunda-feira, a agência confirmou suas advertências e reduziu entre um e dois escalões as notas de nove bancos espanhóis, entre eles, o Satander e o BBVA, assim como a da Confederação de Caixas de Poupança (Ceca).
As autoridades espanholas têm exigido ao setor bancário que assegure seus balanços frente a estes ativos imobiliários problemáticos, o que levou os bancos do país a realizar provisões de 53,8 bilhões de euros.
A Irlanda, assim como a Espanha, sofreu com o estouro imobiliário, origem da forte recessão da qual o país saiu no ano passado. A queda do mercado quase causou a quebra dos bancos da ilha, que se salvaram graças à injeção massiva de dinheiro público.
Contudo, esta intervenção elevou muito o déficit público e obrigou Dublin a pedir um resgate internacional de dezenas de bilhões de euros, com a ajuda da União Europeia e do Fundo Monetário Internacional (FMI).