Jornal Correio Braziliense

Economia

BB e Caixa têm 'gordura' para queimar com juros e crédito, diz professor

A redução dos juros nas operações de crédito para pessoa física e empresas de pequeno porte, a partir desta segunda-feira (9/4), na Caixa Econômica Federal, e na próxima quinta-feira (12/4), no Banco do Brasil (BB), é uma estratégia que busca compensar a perda de rentabilidade com ganhos na escala de mercado, viabilizados pelo aumento da clientela e consequente aumento do volume de operações, segundo o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli.

Ele disse que tem observado ;discreto; aumento da participação dos bancos oficiais na oferta de crédito, em relação aos bancos privados nacionais e estrangeiros, e lhe ;parece que os bancos públicos têm gordura para queimar; na concorrência direta com os ;bancões;, como são tratados no Sistema Financeiro Nacional (SFN), pela ordem de ativos, Itaú Unibanco, Bradesco, Santander e HSBC.

No entender de Piscitelli, ;pode dar certo; o estratagema montado pelo governo para induzir os banqueiros a reduzir as margens de ganho definidas nos altos spreads (diferença entre os juros que o banco paga ao aplicador e os juros que cobra nos empréstimos). Embora desconheça qualquer sinalização dos bancos privados no sentido de acompanhar o BB e a Caixa, Piscitelli acredita que ;de alguma forma [a redução dos juros e ampliação do crédito] terão reflexo na ponta;.

A posição dos banqueiros será discutida nesta terça-feira (10/4) em reunião dos dirigentes da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), no início da tarde, com o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa. Até lá o assunto continuará envolto em mistério, mas o professor arrisca que os bancos vão prometer baixar o spread, desde que o governo diminua também os níveis de exigibilidade bancária (dinheiro dos depósitos à vista e a prazo que os bancos são obrigados a recolher ao Banco Central ).

Piscitelli vê, porém, com ;reserva e cautela;, a ampliação da oferta de crédito, e diz que não se pode ignorar a possibilidade de efeitos inflacionários com mais dinheiro no mercado para consumo. Segundo ele, ;existe preocupação com uma certa liberalidade do crédito, que não pode ser promovido de forma indiscriminada;.

Ele manifesta estranheza, por exemplo, em relação aos recursos tomados pelo Tesouro Nacional, via colocação de títulos públicos no mercado, a juros médios de 12%, e os repassa ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que empresta o mesmo dinheiro às grandes empresas com a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), de 6% ao ano. ;Não dá para explicar o repasse a juros subsidiados;, ressaltou.