Montevidéu - A 53; Assembleia do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que termina nesta segunda-feira (19/3) em Montevidéu, evidenciou a necessidade de integração dos países da região como único mecanismo para superar o impacto da crise global e evitar o protecionismo.
O presidente anfitrião, o uruguaio José Mujica, disse na sessão inaugural das assembleias de governadores (o órgão composto pelos ministros de Economia e Finanças), que é preciso unir a "consciência" e a "dignidade dos latino-americanos" em tempos de crise.
O presidente uruguaio fez uma forte defesa do Mercosul, o bloco regional integrado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
"Temos um Mercosul que tem suas contradições, que respeitamos pouco e que criticamos todos os dias. Mas pobres de nós se ele não existisse", afirmou Mujica ante o presidente do BID, Luis Alberto Moreno. "Os defeitos do Mercosul são nossos defeitos e vamos lutar até a morte, sem concessões e sem afrouxar", disse Mujica, utilizando-se de seu tradicional estilo coloquial.
O Mercosul, o maior bloco comercial latino-americano, atravessa uma difícil etapa de tensões por medidas protecionistas adotadas por Argentina e outras restrições comerciais estabelecidas pelo Brasil, que desataram fortes brigas internas. A situação foi estendida inclusive a outras nações da região, sendo que Peru, Chile, Colômbia e México chegaram a denunciar Buenos Aires ante a OMC pelas barreiras ao ingresso de seus produtos no país.
"Mais do que nunca, a integração econômica deve ser a valorização do mercado regional, não para nos isolarmos, mas sim para ganharmos competitividade", expressou o titular da Secretaria Geral Ibero-Americana, Enrique Iglesias, que também presidiu o BID.
Moreno, por sua vez, disse que "a crise (global) ainda não foi superada", e que os altos níveis de desemprego e dívida nos Estados Unidos, assim como uma piora na dinâmica da economia chinesa, constituem potenciais ameaças à região.
O presidente do BID informou em uma coletiva de imprensa que o organismo espera definir para o mês de abril o formato de um novo mecanismo de créditos de contingência para apoiar países vulneráveis.
Trata-se de um mecanismo "para apoiar países em temas de desastres naturais", "mudanças climáticas", e para criar "linhas contingentes para ajudar a blindar aos países menores" ante a possibilidade de impactos externos, disse.
Este esquema se somaria a outros mecanismos similares já existentes, como aqueles dos quais dispõe com o mesmo objetivo o Fundo Monetário Internacional (FMI), exemplificou Moreno.
Até o momento, disse o funcionário, a instituição não definiu o montante, mas precisou que o novo esquema estará sustentado nas reservas que possui o banco.
Moreno também anunciou que o BID, em parceria com a China, criará um fundo de 1 bilhão de dólares para investimentos na região. "Trata-se de um fundo que vamos construir com o governo chinês para direcionar 1 bilhão de dólares à região latino-americana", disse. A China se converteu no principal sócio comercial de várias economias latino-americanas, entre elas a maior do continente, o Brasil.
O BID, no entanto, é a principal fonte de financiamento creditício regional, tendo emprestado mais de 11 bilhões de dólares no ano passado. Este novo mecanismo de investimento demonstra o "enorme interesse da China pela região latino-americana", disse Moreno.
Fontes próximas ao projeto - que pediram anonimato - disseram à AFP que a iniciativa busca, entre outras inovações, destinar fundos para investimentos em empresas na região, diferentemente de outros mecanismos de investimento do BID, destinados a Estados e a projetos pontuais de infraestrutura ou desenvolvimento.