Atenas - O governo da Grécia anunciou nesta sexta-feira (9/3) que quase 84% de seus credores privados aceitaram a operação de troca da dívida, o que representará a perda de mais da metade dos valores dos títulos e abrirá o caminho para desbloquear os recursos necessários para salvar o país da falência.
Segundo o Ministério das Finanças, os proprietários de bônus da dívida grega - donos de um montante avaliado em 172 bilhões de euros - aceitaram a troca, que corresponderá a 83,5% dos ; 206 bilhões de dívida pública nas mãos de investidores privados (bancos, seguradoras e fundos de investimento). O percentual sobe a 85,8% quando considerados apenas aqueles que adquiriram títulos sob regimes do direito grego. Esta é a maior reestruturação de uma dívida da história, que supera os 82 bilhões de dólares do default da Argentina em 2002 (73 bilhões de euros com a cotação da época).
Atenas destacou que a ampla adesão permitirá ao governo ativar as cláusulas de ação coletiva (CAC) que forçariam os credores privados reticentes a aceitar a operação. Esta medida elevaria o nível de adesão a 95,7%. Segundo o site do jornal grego Kathimerini, as CACs já foram ativadas para que o país consiga obter o segundo pacote de ajuda financeira.
O chefe do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, confirmou que a Grécia cumpriu as condições necessárias para receber o segundo pacote de ajuda, de 130 bilhões de euros, pendente desde outubro, conforme comunicado. "O Eurogrupo considerou que as condições necessárias foram cumpridas para iniciar os procedimentos requeridos para aprovação final" do resgate da Grécia, disse ele em um comunicado, no qual também pediu uma "contribuição significativa" do FMI.
A União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI) haviam condicionado ao êxito da operação - que representa um desconto de 53,5% do valor dos bônus gregos em mãos privadas - o repasse de 130 bilhões de euros para salvar o país da quebra.
O primeiro plano de ajuda, de 110 bilhões de euros em 2010, se revelou insuficiente para salvar um país que tem as contas abaladas e entra em 2012 no quinto ano consecutivo de recessão.
Menos de 75% de adesão teria significado um fracasso da operação e deixado a Grécia exposta a um rápido default, já que o país enfrenta vencimentos por 14,4 bilhões de euros em 20 de março.
As Bolsas asiáticas, o petróleo e a cotação do euro registram alta nesta sexta-feira. Na Europa, as Bolsas abriram próximas da estabilidade, depois que fecharam em alta na véspera com as notícias de um possível êxito na operação grega.
O ministro das Finanças, Evangelos Venizelos, agradeceu aos investidores que se uniram à "histórica" iniciativa. "Em nome da República, quero expressar meu apreço a todos os nossos credores que apoiaram nosso ambicioso programa de reforma e ajuste, e que compartilharam os sacrifícios do povo grego neste esforço histórico", destacou Venizelos em um comunicado. O ministro informou que o prazo para os credores que compraram títulos da dívida grega sob regimes legais estrangeiros aceitem a operação, cujo prazo foi ampliado para eles até 23 de março. Nesta categoria, apenas 69% dos investidores aderiram ao plano.
Atenas tem atualmente uma dívida pública total de 350 bilhões de euros, equivalentes a 160% do Produto Interno Bruto (PIB). O conjunto de planos de ajuste, reduções da dívida e créditos deve permitir ao país reduzir a dívida a 120,5% do PIB em 2020.
A aplicação das CAC permitirá superar 95% de adesão do plano, mas a adesão forçada também poderia ativar os seguros contra a falta de pagamentos (CDS), que em fevereiro alcançavam 3,2 bilhões de euros.
A Alemanha, principal economia europeia, considerou que o acordo representa um "grande passo" para a estabilidade da Grécia.
O Instituto Internacional de Finanças (IIF), uma associação do sistema bancário que participou na elaboração do processo, destacou que a reestruturação "dá à Grécia uma grande oportunidade de avançar com seu programa de reformas e reforça a capacidade da Eurozona de criar um ambiente de estabilidade e crescimento".
Pouco antes do anúncio oficial, a diretora gerente do FMI, Christine Lagarde, havia afirmado que a perspectiva de um acordo "afasta, no momento, o risco de uma crise".
A operação de troca será concretizada na próxima segunda-feira (12/3) para os bônus de direito grego.