Atenas - O governo grego dava nesta quarta-feira (7/3) sua última cartada na partida com credores privados um dia antes do vencimento do prazo para reduzir voluntariamente mais da metade da dívida soberana e evitar que o país declare a suspensão de pagamentos.
Dos pequenos detentores de títulos gregos, levados a este grande jogo financeiro, aos grandes bancos internacionais, a tensão aumenta, no calor das declarações contraditórias e do nervosismo da bolsa de valores, enquanto as autoridades da Grécia continuam pressionando.
Segundo uma estimativa realizada pela AFP por volta das 16h00 GMT (13h00 de Brasília) a porcentagem de credores privados que se manifestaram a favor da troca de títulos da dívida grega era de 50% do total fixado pela operação, que termina na quinta-feira às 20h00 GMT (17h00 de Brasília).
O Instituto Internacional de Finanças (IIF), que representa as principais instituições financeiras, indicou à tarde que já tinha registrado a aceitação de 39,9% do montante da operação, ou seja, cerca de 81 bilhões de euros.
O IIF citou trinta bancos, seguradoras e fundos de investimento (Deutsche Bank, HSBC, BNP Paribas) que deram seu apoio público ao plano. Outros grandes bancos detentores de títulos gregos ainda não tinham tornado pública sua decisão.
Há quase 18 bilhões de euros em fundos geridos pelo Banco da Grécia, 2,5 bilhões de euros pelo banco regional alemão mais importante, Landesbank Baden-Württemberg (LBBW) e Munich Re, e 8,1 bilhões de euros administrados pelo banco alemão HRE, chegando a 109,63 milhões de euros, 53,2% dos 206 bilhões de euros afetados pela dívida.
O HRE, ao contrário do LBBW e Munich Re, não anunciou publicamente sua participação na operação, mas o governo alemão disse em várias ocasiões que o banco participaria.
Salvo se for prorrogado no último minuto, o que Atenas descartou, o veredicto será dado na quinta-feira às 20h00 GMT (17h00 de Brasília) no caso dos títulos de regidos pela lei grega, 88% do total de cerca dos 206 bilhões de euros de dívida em jogo, enquanto os regidos pela lei internacional têm até o dia 11 de março.
Na terça-feira (6/3), a agência grega de gestão da dívida pública, a PDMA, subiu o tom: "o programa econômico grego não dispõe de fundos para reembolsar os credores do setor privado que se recusarem a participar" na operação que pretende perdoar 107 bilhões de euros dos 350 bilhões da dívida grega.
Atenas advertiu os credores resistentes que eles se expõem ao risco de perder praticamente a totalidade de seus investimentos, em vez de limitar os danos em cerca de 73%, como previsto nos termos da operação.
O tabloide alemão Bild, curiosamente, anunciou que se nega a trocar a dívida grega que comprou em dezembro - 4.815 euros - por mero prazer, depois de fazer campanha contra a Grécia durante meses.
Na quarta-feira, enquanto a imprensa detalhava as listas de instituições financeiras estrangeiras que anunciaram sua participação no programa, um porta-voz governamental, Giorgos Stavropoulos, manifestou seu otimismo: "Eu acredito que tudo vai se sair bem, as informações que temos são positivas", disse à rádio Skai.
A operação "deve se desenvolver sem problemas" já que "continua sendo interessante financeiramente para o setor privado", confirmou o comissário europeu de Assuntos Monetários, Olli Rehn, em uma entrevista publicada nesta quarta-feira pelo jornal francês Le Figaro.
A Grécia e a zona do euro precisam que pelo menos 75% dos bancos e dos fundos privados participem na operação de troca, porque abaixo desse nível será um fracasso, expondo o país à falência a partir do dia 20 de março, data em que vencem os 14,5 bilhões de euros que a Grécia não poderá pagar.
Segundo um relatório do IIF, o fracasso seria um duro golpe para a economia europeia e mundial.
Difundido oportunamente na segunda-feira (5/3), o estudo aponta em 1 trilhão de euros o custo da falência da Grécia.
Internamente, as pressões do governo tiveram resultados: no fim de uma de uma reunião com os diretores dos seis principais bancos do país, o ministro das Finanças grego, Evangelos Venizelos, se vangloriou de tê-los convencido a aceitar todos os títulos.
As bolsas que registraram fortes perdas na terça-feira, fecharam nesta quarta-feira em alta, com exceção de Madri. Em Nova York, Wall Street também estava em alta.