Para salvar pequenas e médias instituições financeiras que estavam com falta de dinheiro no caixa, o Banco Central mudou as regras dos depósitos compulsórios a prazo, recursos que devem ser mantidos obrigatoriamente nos cofres da autoridade monetária. Com a medida, os grandes bancos poderão usar cerca de R$ 30 bilhões a mais para adquirir carteiras de crédito de parceiros menores, o que, segundo analistas, deve ampliar a oferta de empréstimos e financiamentos e pressionar os juros aos consumidores para baixo. Na prática, as instituições terão de decidir se deixam uma fatia do dinheiro guardado no BC com remuneração ou se aplicam esse capital na aquisição de carteiras ou em letras financeiras, títulos de longo prazo voltados para garantir obras de infraestrutura.
O BC adotou essa medida porque havia percebido que os bancões haviam perdido o apetite pela aquisição de carteiras de crédito. Para eles, era mais vantajoso deixar o dinheiro parado nos cofres da autoridade monetária, sem riscos, em troca da taxa
básica de juros (Selic) como remuneração. Em dezembro do ano passado, preocupado com as dificuldades das pequenas instituições, o BC comunicou ao mercado que a partir de fevereiro deixaria de remunerar 100% dos compulsórios. O cronograma era curto: em fevereiro de 2012, apenas 73% desse capital renderia juros aos compulsórios e, em abril, esse índice cairia para 64%. Ontem, o BC deixou o processo mais gradual, estendendo o prazo para agosto.
Os bancões haviam se queixado à autoridade monetária de que não haveria tempo hábil para avaliar carteiras e instituições. ;São medidas que têm como objetivo calibrar os compulsórios para garantir o bom funcionamento do sistema. Mudanças semelhantes já tinham sido feitas em outras oportunidades;, lembrou Luís Miguel Santacreu, economista da agência de risco Austin Rating. A remuneração dos compulsórios só voltará ao normal, ou seja, juros para 100% do capital depositado no BC, em junho de 2014. Com a medida, o Banco Central sinaliza que está mais preocupado com a questão regulatória do sistema como forma de baratear o custo do dinheiro no país.