A partir deste mês, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, passa a ser apurado com base em nova metodologia. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo cálculo, começará a usar a mais recente Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), realizada entre 2008 e 2009. A POF reflete um novo perfil de consumo dos brasileiros, que estão abandonando antigos hábitos e aumentando despesas com novas tecnologias e serviços, como internet e TV por assinatura. Um efeito colateral das mudanças pode ser comemorado pelo Banco Central, que tem a atribuição de manter a inflação dentro da meta definida pelo governo. Segundo economistas, o IPCA vai ficar pelo menos 0,5 ponto percentual menor, neste ano, só por conta das alterações na fórmula.
Com base na nova POF, foram atualizados os pesos dos vários grupos de despesas, o que já deveria ter sido feito, de acordo com o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. ;O IBGE estava dando um peso muito grande para coisas que as famílias brasileiras não consomem mais;, explicou. Manter empregada doméstica, por exemplo, é um serviço caro, que muitas famílias de classe média tiveram que deixar de lado. Por isso, o peso desse item caiu de 3,69% para 3,51%.
A economista Tatiana Pinheiro, do banco espanhol Santander, observou que a dinâmica da inflação não muda, mas, como os pesos mudaram, haverá um impacto positivo no IPCA. Isso porque o IBGE aumentou a ponderação do consumo de produtos duráveis ; eletrodomésticos, eletrônicos e carros ;, cujos preços, por causa da desaceleração da economia mundial, estão em queda. Em 2011, esses produtos tiveram deflação de 1,59% no mercado interno e nada indica que será diferente este ano.
Novos pesos
No entanto, caiu o peso dos serviços, que inclui itens como despesas pessoais e educação. Nesse setor, a inflação não tem refluído. Ao contrário, a escalada dos preços é galopante: chegou a 9% no ano passado e deve manter a mesma tendência este ano. Tão logo o IBGE divulgou uma prévia das novas ponderações, o Santander refez as contas e reduziu de 6% para 5,5% a inflação esperada para este ano. Se a nova metodologia estivesse valendo em 2011, o Banco Central não teria passado tanto apuro. A inflação oficial, segundo Tatiana, teria sido de 6,32%, ficando abaixo do teto de 6,5%, nível que efetivamente alcançou.
[SAIBAMAIS]De acordo com o IBGE, cinco dos nove grupos que compõem o IPCA perderam peso na fórmula de cálculo: alimentação, de 23,45% para 23,12%; educação, de 7,21% para 4,37%; vestuário, de 6,94% para 6,66%; despesas pessoais, de 10,53% para 9,94%; e comunicação, de 5,25% para 4,96%. Em compensação, duas classes de despesas importantes tiveram ponderação aumentada: transportes, de 18,68% para 20,54%, e habitação, de 13,25% para 14,61%. Também aumentou a ponderação dos grupos saúde e cuidados pessoais, de 10,75% para 11,09%, e artigos de residência, de 3,90% para 4,67%.
BB dá prazos para agricultor
O Banco do Brasil vai adiar o pagamento das dívidas de produtores rurais da Região Sul que tiveram perda significativa na safra por causa da seca, disse o vice-presidente de Agronegócio e de Micro e Pequenas Empresas do BB, Osmar Dias. ;Quem não tem seguro nem Proagro vai ter, inicialmente, prorrogação dos vencimentos do início dos pagamentos, de abril para agosto;, disse. A seca que atinge as lavouras de soja e milho provocou perdas de 4,5 milhões de toneladas, o equivalente a 10,6% do que Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina esperavam colher. Segundo Dias, ex-senador pelo PDT paranaense, cerca de R$ 2 bilhões em crédito para os agricultores não têm cobertura contra riscos. Em agosto, o BB vai avaliar as perdas nas safras. A ideia é oferecer prazo adicional de até cinco anos para quem perdeu de 80% a 100% da lavoura. Para prejuízos de 60% a 80%, o tempo extra será de quatro anos; de 30% a 60%, de três anos.