Jornal Correio Braziliense

Economia

Planejamento é a melhor solução para não passar o ano endividado

Quem gastou mais do que devia com presentes e festas no fim de 2011, e entrou em 2012 no vermelho, deve parar, respirar fundo e pensar em como se organizar. Afinal, ninguém deseja passar os próximos 12 meses pagando prestações e juros altos por conta de um descontrole lá atrás. A solução para o sufoco, mesmo em meio às dívidas, é o planejamento, asseguram os especialistas em educação financeira. O desespero não ajuda. Seguir a cartilha da cautela nos gastos, mas sobretudo a partir do registro de cada despesa na ponta do lápis, costuma dar mais resultados do que se imagina.

O primeiro passo para evitar o endividamento é ter controle sobre o dinheiro, diz Fábio Moraes, diretor de Educação Financeira da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Ele admite, contudo, a necessidade de um plano emergencial para aqueles que estão com a corda no pescoço. ;Isso envolve dois caminhos: primeiro, é preciso verificar se é possível um aumento da renda, por exemplo, por meio da mudança de emprego ou assunção de outra atividade que garanta uma renda extra. Em segundo lugar, deve-se avaliar os gastos do mês e classificar as despesas em essenciais ou supérfluas;, aconselha.

Contudo, a reorganização do orçamento nem sempre é fácil. Exige disciplina e acompanhamento constante. Algumas ferramentas, como planilhas, cadernetas ou até mesmo softwares, podem ajudar na tarefa. O economista Reinaldo Domingos, presidente do Instituto Dsop de Educação Financeira, dá uma sugestão bem simples: ;Pegue uma agenda comum e comece a registrar todos os eventos, como aniversários e datas comemorativas, além de despesas correntes e as prestações já contraídas;.

O que talvez pareça bobagem não o é. Colocar tudo no papel dará ao consumidor a ideia exata de quanto se ganha e quanto se gasta. É o que faz, por exemplo, o estudante de administração Marco Paulo dos Santos. Ele conta que passou algum tempo com dívidas altas, não sabia quanto recebia por mês nem quanto gastava. ;Como fiquei muito tempo trabalhando como autônomo, o descontrole foi maior. Num mês entrava dinheiro e, no outro, não;, conta. A situação ficou tão crítica que Marco Paulo não viu outra opção, senão a de mudar de conduta.

Antecedência
Ele mesmo fez uma planilha e habituou-se a anotar todos os gastos, inclusive os menores, como a compra de um simples chocolate. ;Procuro guardar o tíquete de tudo, embora perca alguns. Mas, até para isso, tenho um lugar reservado na planilha;, explica. Com as contas equilibradas há pelo menos dois anos e agora com um emprego fixo ; Marco Paulo é comissionado no Senado Federal ;, o estudante já planeja voos maiores. Para este ano, as metas são comprar um carro e alugar um apartamento mais perto do trabalho. ;Planejo os gastos com muita antecedência e só compro depois de pesquisar bastante os preços e ver a melhor forma de pagamento, se à vista ou parcelado;, ensina.

Aos olhos dos especialistas, a forma encontrada por Marco Paulo para organizar as finanças pessoais é muito boa. Os educadores fazem apenas uma reparação. Além da planilha de gastos, deve ser adicionada à iniciativa a manutenção de uma pequena poupança, necessária para as horas de aperto e para as despesas inesperadas ; que sempre aparecem.

Mas, se situação é de superendividamento, nem sempre listar as despesas e usar as reservas resolvem. É preciso mais. ;Renegocie os débitos e avalie a necessidade de trocar uma dívida ruim (cara) por uma melhor (mais barata). Por exemplo, se estiver endividado no cartão de crédito ou no cheque especial, opte por uma linha de financiamento mais adequada, como o crédito consignado, que tem juros menores;, ensina o diretor de Educação Financeira da Febraban. Ele lembra que o cheque especial é um produto apenas para situações emergenciais e deve ser utilizado por um período bem curto.

;Não adianta só pagar as contas. Quem está endividado precisa cortar despesas desnecessárias para equilibrar o orçamento. Nesse caso, será preciso observar até os pequenos gastos, como, por exemplo, comer fora de casa ou tomar o cafezinho na padaria todos os dias. É importante perceber que pequenas despesas podem gerar um grande gasto no fim do mês;, alerta Moraes.

Empréstimo como opção
Se o orçamento está mesmo no vermelho e não se vê uma saída à frente, a última alternativa pode ser mesmo a de pegar dinheiro emprestado em um banco. Mas os especialistas não aconselham essa solução, já que os juros geralmente são elevados. Contudo, se mesmo depois de refeitas as contas faltar dinheiro no fim do mês, talvez a opção deva ser considerada. Praticamente todas as instituições têm alternativas de financiamento para as despesas extras da virada de ano.

O Bradesco, por exemplo, lançou uma linha de crédito pessoal em condições que classifica como especiais. O cliente pode escolher a data de vencimento da primeira parcela para até 59 dias após a contratação da operação. Com o dinheiro na mão, ele pode pagar, à vista, tributos como IPTU e IPVA, e beneficiar-se dos descontos previstos, sugere a instituição. A linha tem prazo de um a 12 meses para pagamento, com prestação mínima de R$ 20,00 e taxa de juros a partir de 4,64% ao mês.

O Banco Santander também oferece crédito pessoal diferenciado. É uma linha simples, possível de ser contratada pela internet, nos caixas eletrônicos, na Central de Atendimento Santander ou nas agências da instituição. O cliente pode simular o valor das parcelas e escolher o melhor prazo para o pagamento, desde que atinja, no máximo, 48 meses. Esse é um tipo de financiamento que possui parcelas fixas e fáceis de controlar. Na instituição, a primeira prestação pode ser quitada em até 90 dias.

A Caixa, a exemplo dos concorrentes, abriu operações para os clientes com o orçamento apertado. O Crédito Direto Caixa tem valor mínimo de R$ 300,00 e máximo de R$ 30 mil. O prazo para pagamento varia de acordo com o valor escolhido (mínimo de R$ 20), que é debitado automaticamente na conta do cliente. Já o Banco do Brasil informa que não tem uma linha específica para o início de ano, mas que o cliente pode utilizar qualquer um dos vários tipos de empréstimo pessoal disponíveis. (VC)

10 dicas para uma vida financeira mais saudável

; Controle o orçamento;
; Acompanhe diariamente ou semanalmente os gastos;
; Procure o crédito mais adequado para sua situação caso decida contratar um financiamento;
; Não use o cheque especial e o cartão de crédito como extensão do salário;
; Evite pagar só o mínimo da fatura do cartão de crédito (rotativo);
; Reduza os gastos supérfluos;
; Tenha sempre um projeto de vida acompanhado por uma meta financeira;
; Tenha uma poupança de emergência com valor equivalente de 3 a 12 salários;
; Faça um planejamento financeiro pensando na aposentadoria;
; Equilibre as despesas e esteja sempre com o saldo positivo.

Fonte: Febraban