Um dos principais vilões da inflação deste ano, com alta de 15% até novembro, o etanol voltará a assustar em 2012. O governo anunciou medidas para garantir estoques e controlar o preço nos postos, mas os efeitos só virão a longo prazo e ainda insuficientes para conter uma adversa combinação de fatores. O primeiro deles é a entressafra, que vai de janeiro a abril, seguida de uma colheita só pouco maior que a atual. Para completar, o açúcar continuará sendo a opção mais atraente aos usineiros.
;A oferta nacional de gasolina e álcool combustível será completada até dezembro por importações para atender ao crescente mercado interno;, disse Antônio de Pádua Rodrigues, diretor da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica). Ele calcula que a tendência, ao longo do próximo ano, é de o etanol custar ao consumidor perto de 70% do valor da gasolina. ;Onde há incentivo fiscal, como São Paulo, a proporção deve ser de 55%.; Só quando o valor do álcool está abaixo de 70% da gasolina, compensa encher o tanque com ele nos carros flex.
Esse quadro deixa o governo preocupado, considerando que o etanol já subiu 4% em média apenas em dezembro e deverá seguir pressionado nos próximos meses. O Brasil terminará o ano com produção 17% menor que em 2010 e a Agência Nacional do Petróleo (ANP) informou que o litro chegou a custar R$ 2,99 em alguns estados, fato que vem irritando os consumidores.
Em razão dos efeitos do clima seco no meio do ano, a Unica estima uma produção em torno de um bilhão de litros por mês em 2012, um terço a menos do que o nível até 2009. Pouco mais da metade da colheita da cana (52%) será destinada ao etanol, volume que dificilmente subirá ; os empresários preferem contratos de longo prazo e preços cotados internacionalmente, características mais comuns no açúcar. ;Buscamos o melhor retorno para o investimento. O etanol não goza da regularidade do açúcar e ainda depende de políticas públicas para garantir a oferta;, lembrou Rodrigues.
O governo poderá dar subsídios de até R$ 500 milhões por ano para estimular a formação de estoques de etanol. A Medida Provisória n; 554, publicada no Diário Oficial da União esta semana, prevê que recursos federais serão usados para reduzir custos das usinas na tomada de empréstimos bancários para financiar os estoques. A medida estava sob análise no governo havia bastante tempo e tem por objetivo estabilizar a oferta em períodos de entressafra, reduzindo a oscilação nos preços no mercado interno.
Os termos das operações ainda serão definidos pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), mas o estímulo ficará disponível por cinco anos, o que representa até R$ 2,5 bilhões oferecidos pela União. O dinheiro para o programa virá da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) cobrada na venda de combustíveis, da Poupança Rural e de outras fontes a serem definidas.
Além do anúncio de juros subsidiados para o financiamento, Rodrigues considerou positiva a notícia de que o cobiçado mercado norte-americano vai abrir suas portas em 2012 às importações do álcool brasileiro, mas ressaltou que a retirada histórica de incentivos não terá impacto imediato.