Diante dos estragos produzidos pela crise na Europa e nos Estados Unidos, a América Latina se prepara para enfrentar uma desaceleração de sua economia em 2012, com um crescimento revisado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para 4%. O organismo reviu várias vezes para baixo suas previsões econômicas para a região e, em seu último relatório, projetou um crescimento menor, considerando ainda uma expansão de 4,5% em 2011. Mas o próprio Fundo admite que os números estão otimistas e que novas revisões, mais pessimistas, serão feitas em breve. O mercado já aposta em alta menor. O Banco Goldman Sachs, por exemplo, vê expansão de apenas 3,2% para o continente no próximo ano.
;Esse é ainda um crescimento (4% para a América Latina) respeitável, principalmente se levarmos em conta a volatilidade global nos mercados financeiros;, disse Charles Kramer, diretor da divisão de estudos para a região do FMI. ;As coisas estão se movendo tão rapidamente que é difícil dizer como estarão ao fim de janeiro;, acrescentou ele. Mas a desaceleração poderá ser ainda maior que a previsão atual. Kramer afirmou que a estimativa para 2012 deve ser novamente revisada para baixo em janeiro.
Analistas de mercado, no entanto, dizem que a América Latina se mantém relativamente bem com relação aos países ricos. ;A região é bastante flexível e, em alguns pontos, está mais forte que antes da quebra do (banco americano) Lehman Brothers (em 2008, que marcou o início de uma crise financeira internacional);, disse Luis Cubeddu, subdiretor da divisão de estudos para América Latina do FMI.
Risco asiático
Ele destacou as armas do continente para vencer a crise, como os altos níveis de reservas internacionais, demanda interna, crédito e vendas, além do baixo endividamento público de curto prazo. ;Apesar da melhor situação da região, ela está inserida num mundo mais complicado e, por isso, a maioria dos riscos estão vindo de fora;, disse Augusto De la Torre, economista-chefe para América Latina e Caribe do Banco Mundial. Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI, afirmou recentemente que o desafio para a região é manter o crescimento em um ambiente de alta volatilidade.
Segundo o FMI, os países latino-americanos com estreita relação com os Estados Unidos e com a Europa terão uma desaceleração econômica mais forte, com uma diminuição do comércio, remessas e fluxo de turismo. Especialistas alertam ainda para o fato de que a recessão dos países ricos ameaça desacelerar as economias emergentes da Ásia, que são grandes compradores de matérias-primas latino-americanas, derrubando os preços desses produtos. ;Uma queda no consumo chinês de matérias-primas teria um impacto muito grande na América Latina;, alertou De la Torre.
De acordo com o banco Goldman Sachs, no entanto, os preços das matérias-primas devem resistir em 2012. ;Restrições na oferta em mercados importantes provavelmente compensarão uma eventual queda na demanda;, disse a instituição no fim de novembro. ;Os países emergentes se recuperaram rapidamente e vigorosamente da crise de 2008 e, em 2011, esbarraram em questões normais a esse crescimento;, acrescentou o economista do Banco Mundial.
Dívida dos EUA no limite
Pouco menos de um ano após o exaustivo debate do teto da dívida que colocou o governo de Barack Obama contra a parede, o endividamento dos Estados Unidos voltará a se aproximar do limite autorizado pelo Congresso na primeira semana de janeiro, informou ontem o Departamento do Tesouro norte-americano. O atual teto alcançará US$ 15,2 trilhões. O governo pedirá ao Legislativo um incremento de US$ 1,2 trilhão sobre esse limite. Mas é pouco provável que haja novo confronto entre democratas e republicanos, já que o Congresso havia concordado em autorizar os aumentos por etapas.