Jornal Correio Braziliense

Economia

Dilma afirma que economia pode crescer a um ritmo de até 6% em 2012

A presidente Dilma Rousseff acredita que já liquidou os problemas herdados da administração anterior e que preparou o terreno para a economia crescer a um ritmo de até 6% no segundo semestre de 2012

A presidente Dilma Rousseff acredita ter liquidado, ao longo do primeiro ano de mandato, a herança maldita deixada pelo antecessor na economia, principalmente na disparada da inflação. Após o esforço para arrumar a casa, ela está confiante de que reuniu todas as condições para fazer o Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas geradas no país) crescer a taxas mais robustas a partir de 2012 ; a expectativa é de um ritmo perto de 6% no segundo semestre do ano que vem. O combustível da locomotiva será o investimento público em infraestrutura.

Técnicos da área econômica disseram ao Correio que a estratégia de frear a expansão da economia para o nível atual de até 3% anuais foi vitoriosa, pois conseguiu domar a escala de preços iniciada no último ano da Era Lula. Na avaliação interna, o descontrole foi resultado do afrouxamento fiscal de 2010 ; a gastança estimulou o crescimento do PIB, que fechou o ano com alta histórica de 7,5%, e a eleição da própria Dilma.

;A decisão mais importante para frear o crescimento em 2011 foi dar um tranco nos investimentos da União, adiando R$ 50 bilhões para o próximo ano;, salientou um importante membro da equipe econômica. De janeiro a novembro, os gastos federais caíram 2,7%, mas a tendência se inverterá logo no começo de 2012. A intenção de recolocar a economia nos trilhos ficou evidente já no fim do ano passado com as travas impostas ao crédito. As medidas anunciadas pelo Banco Central (BC) para conter o crédito e o consumo foram acompanhadas da elevação dos juros até julho.

Isso deixou a economia estagnada no terceiro trimestre. ;Aliado à perda de dinamismo do investimento, o PIB este ano dificilmente crescerá 3%;, reconheceu. O cenário que Dilma vislumbra agora é bem diferente. O retorno ao investimento não levará ao salto expressivo do PIB de 2010, mas garantirá expansão em torno de 3,5%, com uma vantagem: a inflação caindo para 4,7%, muito perto do centro da meta (4,5%). O BC prevê aumento de 3,2% do consumo do governo em 2012, ante os 2% deste ano. Não fossem as medidas do primeiro semestre, a inflação estaria beirando os dois dígitos, um preço alto demais até para justificar o esforço de eleger a candidata de Lula.

Outra convicção do governo é a de que o controle fiscal ao longo do ano, depois da ressaca de 2010, foi condição básica para estabilizar os indicadores de preços e vencer a permanente desconfiança do mercado. Ajudado pelo aumento de pelo menos R$ 10 bilhões em arrecadação de tributos, o superavit primário ; a economia de recursos para pagar juros da dívida pública ; vai superar a meta para o ano, cobrindo a diferença do esforço não cumprido por estados e municípios. O saldo do governo central já passou a meta de R$ 91,7 bilhões até a terceira semana de dezembro. O objetivo para o setor público (União, estados e municípios) é de R$ 127 bilhões.

Pela mesma razão, o governo se empenhou com firmeza para impor ao Congresso a proibição de novos aumentos nos gastos correntes em 2012, sobretudo de salários de servidores. O próprio ministro da Fazenda, Guido Mantega, classificou os aumentos de gastos fixos como o ;principal risco para a economia brasileira na atualidade;. Ontem, ele disse que o PIB nacional deve superar o da França antes de 2015, tornando-se o quinto maior do mundo ; neste ano, deixou o sétimo lugar para o Reino Unido. ;Nosso ritmo será o dobro dos países europeus. Portanto, é inexorável que nós passemos a França e, quem sabe, talvez a Alemanha, se ela não tiver um desempenho melhor;, disse.

Receita

O resumo da receita de Dilma é mesmo frear reajustes com a folha de pagamentos e priorizar os investimentos em infraestrutura. Trata-se, segundo os técnicos, de uma engenhosa mudança na estrutura de gastos da máquina pública com resultados duradouros, sobretudo os que serão obtidos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que aplicará R$ 79,7 bilhões em obras.

As autoridades estão preocupadas com os impactos da crise internacional, mas contam com dinheiro em caixa e juros declinantes para vencê-los. Com isso, o Palácio do Planalto espera assistir à volta do espetáculo do crescimento no segundo semestre de 2012, ao ritmo de 5% a 6%.

Antes de entrar de férias com a família na Bahia, onde fica até o dia 9, a presidente avisou que não descansará enquanto não tirar 16 milhões de brasileiros da miséria. A marca publicitária de seu governo não esconde, contudo, sua preocupação em dar novo rumo à economia. Prova disso foi a decisão de Dilma de reajustar o salário mínimo para R$ 622.

O aumento válido a partir de janeiro é o primeiro da administração petista a não arredondar o piso salarial para um múltiplo de R$ 5, prática justificada como forma de facilitar saques em caixas eletrônicos. Só os R$ 3 a menos garantirão economia de R$ 900 milhões nos cofres do governo no ano que vem. O valor é modesto para um Orçamento de quase R$ 1 trilhão, mas não deixa de ser emblemático como compromisso de ajuste.

Culpa

O termo ;herança maldita; foi criado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2003, primeiro ano de seu governo, para explicar a disparada da inflação desde o ano anterior e que o forçou a elevar os juros e promover um duro ajuste fiscal. Para ele, a culpa foi da gestão de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Em 2002, a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 12,53%, a maior desde 1995, quando o teto da meta era de 5,5%.

Retomada imediata

; VÂNIA CRISTINO

A estagnação da economia brasileira no terceiro trimestre é passageira. Apesar de o Produto Interno Bruto (PIB) não ter se mexido, a trajetória de crescimento deve ser retomada já no primeiro trimestre de 2012. Pelo menos é isso que acredita a Serasa Experian, que ontem divulgou o indicador de perspectiva econômica. O número sinalizou expansão de 0,2% em outubro com relação a setembro. Foi a terceira alta consecutiva. ;O que aconteceu com o indicador hoje provavelmente é o que vai acontecer com a economia em seis meses;, explicou o gerente de Indicadores de Mercado da empresa de gestão de risco de crédito, Luiz Rabi.

Ele observou que o ciclo de crescimento do indicador começou em agosto, o que projeta uma retomada da economia em algum momento do primeiro trimestre do ano que vem. Pela metodologia, o indicador tem a propriedade de antever os movimentos cíclicos da atividade com seis meses de antecedência. De acordo com a Serasa Experian, o novo ciclo positivo será impulsionado pelas reduções da taxa básica de juros, pela adoção de isenções fiscais para estimular o consumo e pelo aumento de 14,3% no salário mínimo, que entrará em vigor em 1; de janeiro.

Gradual

;Todas essas medidas ajudarão no processo de recuperação do dinamismo da atividade econômica, ainda que de maneira gradual;, salientaram os economistas da empresa. O economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal concorda. Para ele, o PIB ainda crescerá um pouco no último trimestre deste ano para, depois, aumentar a velocidade no ano que vem.

O ABC Brasil projeta para 2012 uma expansão de até 3,8%, embora reconheça que o crescimento isolado nos dois últimos trimestres será bem maior do que isso. ;O resultado não será de 4%, como deseja o governo. Para isso, teríamos que contar com pelo menos 1,5% por trimestre e esse desempenho só começará a ocorrer no segundo semestre;, ressaltou Leal.

Como o crescimento da economia será vigoroso, ele admite que conta com um novo ciclo de aperto monetário já a partir do início de 2013. ;O Banco Central vai ter que voltar a elevar os juros para combater o impacto inflacionário.;

Estímulo de R$ 47 bi

; GUSTAVO HENRIQUE BRAGA

A correção do salário mínimo, de R$ 545 para R$ 622 a partir de janeiro, injetará R$ 47 bilhões na economia. O cálculo é do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que estimou em R$ 19,8 bilhões o impacto anual nas contas da Previdência Social. Descontada a inflação, o reajuste de R$ 77 representa um aumento de 9,2% na renda de 48 milhões de trabalhadores, o maior ganho real desde 2006. Apesar disso, os pesquisadores ressaltaram que o piso continua muito abaixo dos R$ 2,3 mil considerados necessários para atender as necessidades básicas de uma família.

Na avaliação de Felipe Salto, economista da consultoria Tendências, o expressivo reajuste no piso salarial é motivo de preocupação com os rumos da economia a médio prazo. O motivo, argumentou o economista, é que o aumento do poder de compra resultará em pressão sobre a demanda e sobre a inflação. ;Quando o país recuperar um ritmo de crescimento mais forte, a partir de 2013, isso poderá levar o governo a retomar o aumento dos juros;, alertou. Para evitar que isso ocorra, Salto defende a necessidade de medidas estruturais para o controle fiscal e maior eficiência dos investimentos.

O coordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre, afirmou que o aumento da renda dos trabalhadores trará efeitos positivos para a economia, especialmente nos setores que lidam com produtos de baixo valor unitário. Os dados do Dieese mostraram que, com o ganho real nos rendimentos, o governo arrecadará R$ 22,9 bilhões a mais em impostos sobre produtos e serviços consumidos.

Regiões

;O reajuste é sustentável, porque o método usado leva em conta o crescimento da produtividade;, rebateu Silvestre. Para calcular a correção, o governo considera o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas nacionais) de dois anos anteriores mais a inflação do último ano. O Dieese mostrou ainda que o impacto do novo salário mínimo será sentido especialmente nas administrações municipais da Região Nordeste, onde 22% dos trabalhadores ganham o piso. Em segundo lugar, vêm as prefeituras do Norte, onde 17,9% dos funcionários recebem menos de R$ 622.