A presidente Dilma Rousseff respirou aliviada ontem à noite. Depois de comandar, pessoalmente, as negociações de vários de seus ministros com as empresas aéreas para evitar a greve dos aeroviários (profissionais de terra) e dos aeronautas (trabalhadores de bordo) a partir das 23h de hoje, o Tribunal Superior do Trabalho (TST) entrou em cena para garantir o mínimo de tranquilidade nos aeroportos neste fim de ano. O presidente do TST, ministro João Oreste Dalazen, concedeu liminar ao Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (Snea), determinando que, no mínimo, 80% do pessoal esteja em seus postos nos próximos dias 23, 24, 29, 30 e 31. Se desrespeitarem a decisão liminar, os sindicatos de trabalhadores terão de pagar multa de R$ 100 mil por dia.
A Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac) informou, em nota, ter tomado conhecimento da liminar pela mídia. Ou seja, não haviam sido notificados oficialmente. De qualquer forma, aeroviários e aeronautas farão várias assembleias ao longo desta quinta-feira para ratificar se cruzarão ou não os braços. Por pressão do governo, as companhias foram obrigadas a apresentar uma nova proposta de reajuste a seus funcionários. Em vez de 6,17%, passaram a oferecer 6,5%, garantindo ganho real de 0,8% quando descontada a inflação. ;As assembleias são soberanas e os trabalhadores decidirão os rumos do movimento;, ressaltou a Fentac.
A greve nos aeroportos já dava sinais de enfraquecimento desde anteontem, com o racha entre os sindicatos ligados à Força Sindical e os filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT). Os primeiros aceitaram a proposta de reajuste de 6,17% feita pelas empresas, à revelia dos demais. De acordo com a Fentac, associada à CUT, os dois sindicatos que firmaram acordo com o Snea (um do Rio de Janeiro, outro do Amazonas) representam apenas 10% das duas categorias, que somam 100 mil trabalhadores. Desse total, 40 mil estão empregados nas duas maiores empresas aéreas: TAM e Gol.
Com a aproximação do dia D da greve e da ameaça de alguns parlamentares de não conseguir voar para Brasília na próxima semana com o intuito de votarem itens de interesse do governo, o Palácio do Planalto foi para cima das companhias, que são concessionárias de serviço público. O secretário de Aviação Civil (SAC), Wagner Bittencourt, negociou pessoalmente com as empresas uma saída. O arrocho resultou no aumento da proposta de reajuste salarial para 6,5%. ;Estamos aguardando a nova proposta do Snea e, quando ela chegar, será levada para votação em assembleia;, disse o presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, Gelson Fochesato.
Apesar da ação do governo e da decisão do TST, a apreensão é grande entre os passageiros. O corretor de imóveis Carlos Alberto Azevedo, 62 anos, optou por antecipar a viagem para evitar transtornos. Ele voaria de Porto Alegre para Brasília hoje, mas preferiu remarcar a passagem para ontem. ;Tive notícias da paralisação e não quis arriscar. No ano passado, foi a mesma coisa. Resolvi pagar R$ 150 a mais para não ter problemas;, justificou. O gerente administrativo Samuel de Souza, 28, chegou a Brasília e está com medo de não retornar a Lisboa em 5 de janeiro. ;Sei que a greve é uma forma de os trabalhadores protestarem por melhores salários, mas pagamos caro.;