Jornal Correio Braziliense

Economia

Aeroportos vão parar por tempo indeterminado a partir desta quinta-feira

Os trabalhadores do setor aéreo já têm data e hora marcadas para uma nova greve, que vai começar às vésperas do Natal, ameaçando instalar mais uma vez a confusão nos aeroportos. Ontem, ao fim de uma tensa reunião de quatro horas no Tribunal Superior do Trabalho (TST) para tentar a conciliação com as companhias aéreas, os sindicatos dos aeroviários (pessoal de terra) e aeronautas (pilotos e tripulantes) anunciaram uma paralisação nacional por tempo indeterminado a partir das 23h da quinta-feira. Os representantes dos funcionários rejeitaram a proposta dos empregadores de reajuste salarial pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de 6,17%, ao insistir em 7%, numa diferença de 0,83 ponto percentual.

Apesar dos apelos em favor de um acordo feitos pela ministra Maria Cristina Peduzzi, que presidiu a sessão, e pelos procuradores do Ministério Público do Trabalho (MPT), a reunião fracassou, surpreendendo até sindicalistas na plateia. ;Falta muito pouco para celebrar o acordo, considerando que a diferença não só era ínfima, mas também circunstancial, e desaparece no índice de um mês para o outro;, disse a juíza. Os dois lados concordaram apenas em um ponto: quem sofrerá as piores consequências da paralisação serão os passageiros, numa época de grande movimento nos terminais.

Os patrões, representados pelo Sindicato Nacional das Empresas Aeroviárias (SNEA), alegaram que não poderiam conceder aumento real em razão dos prejuízos acumulados pelas companhias até o terceiro trimestre e, sobretudo, para se precaver contra o cenário negativo da economia global em 2012. Os advogados dos aeroviários e aeronautas foram irredutíveis, argumentando que o setor teve expansão recorde este ano e que diversas outras categorias
obtiveram ganhos reais.

Como a Justiça entra em recesso hoje, o julgamento do dissídio só ocorrerá em fevereiro. Até lá, considerando o aviso verbal de greve ontem, os patrões deverão recorrer ao TST para que o tribunal fixe limites ao movimento, já que se trata de uma atividade essencial. Segundo Maria Cristina Peduzzi, é provável que isso ocorra, a exemplo do ano passado, mas a decisão deve ser dada pelo presidente do tribunal, João Oreste Delazen, que estará de plantão. A ministra espera, contudo, que as partes ainda se reúnam até quinta-feira para chegar a um entendimento. Os trabalhadores avisam que apenas 20% do pessoal vai trabalhar, como parte da escala mínima de serviço.

Avanço
O SNEA havia aceitado os demais pontos da contraproposta apresentada pelos empregados na quinta-feira, incluindo reajuste de 10% da cesta básica e do vale-refeição e a criação de um piso salarial para os operadores de equipamentos. A diferença entre o valor pedido para essa parcela minoritária, que ganha em média R$ 774, foi de apenas R$ 100. Os patrões ofereceram R$ 1 mil contra os R$ 1,1 mil reivindicados. ;Acredito que foi um avanço o estabelecimento de salário-base para parte dos aeroviários e a aceitação de outros pontos, além da proposta de reajuste pelo INPC. Lamento que nossa intermediação não tenha sido bem-sucedida;, afirmou a ministra Peduzzi.

Acusações trocadas

Ana Carolina Dinardo


Trabalhadores e companhias aéreas trocaram acusações até o último minuto para justificar a falta de acordo em uma negociação que se arrastava havia três meses. Na visão dos patrões, a fixação de uma data-base para aeroviários e aeronautas em 1; de dezembro é a principal razão para as ameaças de greve a cada véspera de Natal. ;A população não pode se tornar refém das imposições dos funcionários usando a greve em período de alta temporada como ameaça;, disse Odilon Junqueira, representante do Sindicato das Empresas Aeroviárias (Snea) perante o Tribunal Superior do Trabalho (TST).

Para os sindicatos de trabalhadores, as empresas do setor deveriam reservar uma parcela maior dos R$ 30 bilhões faturados este ano à folha de pagamento, que não chega a 20% do total. ;Pedíamos 14% de reajuste salarial, recuamos para 10% e chegamos a 7%. Isso foi o mínimo para evitar o confronto e serve de alerta: para sair da greve não aceitaremos mais só os 7%;, alertou o economista Cláudio Toledo, negociador do Sindicato Nacional dos Aeronautas.

Funcionários do Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek acham que o maior problema é a carga horária excessiva, sobretudo no movimento recorde de fim de ano. O comissário de bordo da TAM Evandro dos Santos, 36 anos, concorda com o protesto. ;A situação dos aeroportos está caótica. As empresas precisam aumentar o número de funcionários para que não haja sobrecarga;, disse. Ele contou que está trabalhando este mês até 10 horas por dia e tem salário de R$ 2 mil.

Alessandra Mendes Moraes, 37 anos, também comissária, reconhece que o protesto é válido, mas tem medo. ;Sei que é importante a manifestação, mas não posso perder o emprego;, confessou. A aeromoça Silvana Alves Mendonça, 27, está disposta a cruzar os braços. ;Não podemos continuar aceitando tudo que as empresas nos dizem;, afirmou.

Imagens forjadas
Nem todos os líderes dos trabalhadores do setor acreditam no sucesso da greve do próximo dia 23. É o caso de Jorge Negreiros, presidente do Sindicato dos Aeroviários do Amazonas (Sindamazon), que considerou a resistência à proposta dos patrões ;um erro, após uma série de erros;. Ele acha a oferta das aéreas positiva, teme pelos empregos e duvida que os sindicatos consigam realizar a paralisação na escala pretendida. ;As imagens das últimas manifestações foram forjadas por figurantes contratados para encenar;, revelou.