De um lado, profissionais mais sérios, que mal brincam em serviço e tratam os chefes com deferência. De outro, uma turma que não se incomoda em dizer uma gíria durante reuniões, está sempre ligada na internet e prefere pensar no chefe como um amigo. O encontro das gerações X e Y no ambiente de trabalho pode gerar conflitos; por outro lado, o convívio harmonioso entre representantes dos dois grupos é possível e rende bons frutos. Segundo especialistas, as particularidades de cada indivíduo e das faixas etárias diferentes são potenciais fontes de melhoria no rendimento das empresas.
A arquiteta Gislaine Garonce percebeu isso rapidamente ; e tratou de se adaptar às mudanças da nova geração. Aos 38 anos, a gaúcha acredita que o caráter inovador de alguns funcionários a ajudou a alavancar o funcionamento da firma que possui, a Gisa Arquitetura. ;A gente tem que evoluir junto, dá para aprender muito com eles. Além disso, são pessoas que estão com o HD limpo, sempre prontos para absorver mais conhecimento;, opina.
Integrante mais jovem da empresa, a designer de moda Érika dos Santos, 26 anos, se sente confortável no ambiente de trabalho e aparece com unhas coloridas e penteados diferentes, além de exibir uma tatuagem no ombro. Mas nem sempre foi assim: em empregos anteriores, precisou controlar a língua. ;Se tem alguém mais velho e eu sei que é uma pessoa mais séria, que não aceita brincadeiras, presto atenção e me seguro. Até mesmo aqui existe uma diferença entre gerações e de ambiente, não dá para falar o que quiser, de qualquer jeito;, constata.
A designer mineira tem uma formação universitária que lhe rendeu um olho bom para a arte e é, de acordo com Gislaine, a melhor modeladora em 3D do empreendimento. A arquiteta gosta muito das inovações, da juventude e do ritmo, mas admite que uma pessoa da geração Y também pode ser dispersa: ;Se chega uma mensagem no celular, ela não pode esperar nem um minuto, interrompe tudo o que está fazendo para olhar o que é, na hora;. Ainda assim, ter uma chefe que procura aproveitar o que a juventude tem de melhor é um dos pontos que motivam Érika a render no escritório. ;A Gisa está sempre aberta para as novidades, ela quer aprender tudo e isso é o mais legal;, alegra-se.
Nem todo ambiente de trabalho é tranquilo como o de Gislaine e Érika, mas, de acordo com a coach Ana Luísa Pliopas, as diferenças devem ser usadas a favor da empresa. ;Dadas as características de uma geração e outra, a sabedoria é usar o que cada um tem de melhor. Por exemplo, um estagiário que seja bom em capturar rapidamente a informação e em lidar com planilhas é uma combinação maravilhosa com um gestor que saiba o que quer dos resultados e que tenha paciência para ensinar. Assim, você tem o melhor de dois mundos. O grande lance é entender o que um não tem e aproveitar as características que o outro apresenta;, orienta.
Pensamento diferente
A relação que cada geração tem com o emprego é outro ponto de divergência. De acordo com a psicóloga Paula Pessoa Carvalho, o momento histórico e a criação de cada pessoa ajudam a determinar o perfil dos funcionários. ;A geração X vem de uma história cultural e social de desemprego, com menor nível de informação, menos competitividade. As pessoas permanecem mais tempo no emprego. Admitem uma postura mais subalterna no ambiente de trabalho, um salário básico que sustente a família e alguns benefícios, sem almejar grandes cargos;, define.
A leva seguinte é menos conformista e mais impaciente. ;A geração Y é da libertação, onde a tecnologia proporciona muito mais disseminação da informação. São pessoas bastante estimuladas e superprotegidas pelos pais. Eles acreditam que não precisam se submeter a regras, a salários que não agradam e a lideranças em que não acreditam. Como a demanda do mercado é grande, não permanecem tempo suficiente nos empregos, acabam se formando profissionais pouco experientes.;
De fato, Gislaine teve experiências com pessoas mais jovens que ficaram pouco tempo no emprego, mas não vê isso como algo necessariamente negativo. ;Não acho ruim, porque os jovens têm uma ansiedade em aprender e descobrir coisas novas. Mas tem uns que não querem trabalhar, vão para o emprego só pelo dinheiro, não se esforçam; Esses não param por aqui;, avisa. A regra tem exceções: Érika está há dois anos no escritório de arquitetura e pretende ficar por lá, graças ao clima acolhedor e amigável do local. ;Quem não consegue ter a mente aberta para mudanças não sobrevive, não consegue empregar gente nova;, analisa a jovem.
Ainda que o ambiente de trabalho seja sossegado, conflitos de linguagem e comportamento acontecem. De acordo com a coach Ana Luísa, o melhor a fazer é conversar para que o problema não se repita. ;O diálogo deve ser tranquilo e muito concreto. Não é discutir a relação, mas ser específico, dar feedback. Isso é o que mais ajuda as pessoas: não apenas o negativo, mas assuntos positivos também;, aconselha. Segundo ela, quanto mais diferentes forem as pessoas, mais provável é o conflito. E aí entram respeito, capacidade e interesse em ouvir o outro: ;Lugares em que as pessoas não estão dispostas a entender pontos de vista diferentes estão fadados ao fracasso. Chega uma hora em que ;mais do mesmo; não é suficiente para o mercado;.
Futuro incerto
Se a geração Y é bombardeada por referências da internet o tempo todo, o que será da próxima turma que entrará para o mercado de trabalho, a Z? De acordo com a psicóloga Paula Pessoa Carvalho, ainda é cedo para saber como serão as relações no escritório. Por um lado, se o diálogo turbulento entre os representantes das gerações
X e Y antecipa problemas com a geração seguinte, também é possível pensar positivo. ;O grupo Y é composto por pessoas que veem além do que está diante dos olhos, acreditam no que é sustentável, respeitam mais as diferenças e têm grande rapidez de raciocínio. Dessa maneira, elas podem tornar as gerações futuras melhores que as anteriores;, opina.