O brasileiro cultiva o indesejável hábito do consumo inconsequente, apesar das constantes advertências sobre o risco de endividamento e das sequelas da inadimplência, que sobrecarregam o orçamento por um longo tempo. Nesta época de comemorações, é quase impossível resistir aos supérfluos. ;A sociedade praticamente exige que você saia comprando tudo para o Natal. Quando a gente tenta fazer diferente, todo mundo te olha de cara feia e chama de pão-duro;, reclama a funcionária pública Alice Honório, 45 anos. Mas existem saídas ; ou métodos que podem ser aplicados à rotina. Uma dica é: mesmo que a compra seja inevitável, certifique-se de que o valor cabe no bolso.
Quem ensina é o educador financeiro Reinaldo Domingos, autor do livro Livre-se das dívidas. Para ele, a educação financeira é fundamental na hora em que o olhar não consegue se desviar do produto ou serviço cobiçado. Domingos reforça que a decisão de comprar ou não deve envolver toda a família, inclusive as crianças. ;Só saia de casa após definir o valor total a ser gasto. Não se impressione com promoções. Não deixe tudo para a última hora e negocie sempre. Na maioria dos casos, há folgas para baixar o preço;, diz o especialista, que também preside o Instituto Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar (Dsop). Em média, observa ele, de tudo que se consome no mês, 20% a 30% são excessos.
Nem sempre, porém, o consumidor consegue dar sozinho o primeiro passo rumo ao consumo consciente. Nesse momento, ter a assistência da empresa onde se trabalha é uma ajuda e tanto. Foi de olho nessa oportunidade de mercado que a Ecobenefícios Good Card, especializada em benefícios corporativos, criou o cartão Plus, um mecanismo de crédito ajustado pelos empregadores à capacidade de gastos de seus funcionários, sem juros ou qualquer outro encargo. Funciona como um adiantamento do salário que pode ser usado nas compras em supermercados, farmácias, postos de gasolina ; enfim, numa rede de lojas credenciadas em todo o país.
Para Alexandre Leite, diretor executivo da Ecobenefícios, o bom uso do crédito pode fazer parte da política de recursos humanos das empresas, trazendo bem-estar aos funcionários e maior competitividade às companhias. ;O dinheiro é descontado direto na folha de pagamento e a economia para o funcionário pode chegar a R$ 300 por mês;, garante Leite. O produto foi desenvolvido com foco nas classes C e D, que costumam desembolsar mais de 55% do orçamento em itens de primeira necessidade. Ele entende que o cartão, se bem utilizado, aumenta a produtividade, reduz a preocupação com dívidas e, ao mesmo tempo, incentiva o controle de gastos.
Recomendação
Se o dinheiro for bem aplicado, o trabalhador do cartão Plus ainda pode concorrer a prêmios, como direito a um ano de supermercado grátis ou computadores. ;A concretização de sonhos exige planejamento e fuga de gastos impensados a fim de guardar capital para investimentos, compra de um carro ou até uma viagem internacional. Mesmo que pareça difícil controlar os ímpetos a princípio, a dica é não desistir;, afirma Leite. Se levadas à risca, as recomendações são de grande valor para os consumidores que abarrotam os shoppings nesta época. Neste ano, a decisão habitual de deixar a maior parte das compras para a última hora prevaleceu até para as operações na internet.
Estudo da MercadoLivre.com, empresa de tecnologia em comércio eletrônico, indicou que, numa amostra de 200 usuários, 67,5% ainda não compraram presentes nem para os pais nem para os filhos nem para os parceiros. E não se trata de um descuido. Na avaliação dos especialistas, a atitude foi causada pelas incertezas sobre a manutenção do emprego em 2012. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), os brasileiros estão mais temerosos de irem para o olho da rua. O Índice de Medo do Desemprego medido pela entidade cresceu 3,7% em dezembro, na comparação com setembro.
A situação que gera insegurança no consumidor é confirmada pela Pesquisa de Expectativa do Emprego, da Manpower, uma consultoria norte-americana especializada em soluções de mão de obra. De oito setores avaliados pela empresa, apenas três disseram que vão aumentar o quadro de pessoal. O economista da Fundação Getulio Vargas (FGV) Rodrigo Leandro de Mouro diz que, apesar da queda nas contratações e na renda, a tendência é de acomodação na taxa de desemprego em 2012. Mas, na incerteza sobre o que de fato ocorrerá, o melhor mesmo é adotar a cautela na hora de gastar.