Jornal Correio Braziliense

Economia

BC vai vigiar crédito acima de R$ 1 mil para impedir a criação de bolhas


Com receio de que o Brasil repita a bolha de crédito dos Estados Unidos, cujo estouro levou à maior crise global desde a depressão dos anos 1930, o Banco Central passará um raio-x nos empréstimos. Por meio do novo Sistema de Informações de Crédito, vai monitorar todas as operações acima de R$ 1 mil e detalhar dívidas e informações do consumidor, além de criar um ranking dos clientes. As vendas e cessões de carteiras entre instituições também serão observadas mais de perto. No total, R$ 1,8 trilhão estarão sob a fiscalização da autoridade monetária a partir de abril de 2012 ; o equivalente a 96% do estoque atual de financiamentos.

Hoje, o BC registra apenas as operações de crédito acima de R$ 5 mil e tem poucas informações sobre os consumidores. Com as mudanças, vai poder segregar os dados, inclusive por região geográfica. ;Serve para o Banco Central acompanhar o risco de crédito no país;, disse Anthero Meirelles, diretor de Fiscalização do BC. ;Quanto mais informação houver, mais precisa será a atuação do BC no sistema. Teremos uma visão clara do mercado de crédito.;

Segundo Meirelles, os riscos de crédito ;representam 90% de todo o risco das instituições financeiras; e, com o aumento do número de clientes bancários no país e a expansão das operações nos últimos anos, houve a necessidade de pôr as transações sob o microscópio. Em pouco mais de seis anos, empréstimos e financiamentos com valor entre R$ 1 mil e R$ 5 mil cresceram 174,5% ; o que chamou a atenção do BC. Em abril do próximo ano, estarão incluídos no sistema de fiscalização 151 milhões de operações, o equivalente a R$ 159 bilhões. ;É uma preocupação pró-ativa;, observou Meirelles.

O novo sistema vai trazer informações como a renda dos clientes, o faturamento das empresas e dados sobre fundos de investimento de direitos creditórios. Vai registrar ainda operações de cessões de crédito e modificações na carteira das instituições. O objetivo é minimizar a possibilidade de que episódios como o do PanAmericano, que vendeu o mesmo conjunto de operações para mais de um banco, se repitam. Transações que sejam lastro de títulos também serão incluídas no banco de dados.

Inadimplência salta até 22,4%
O número de cheques devolvidos teve um crescimento, no mês passado, de 10,4%, segundo a Serasa Experian. Em relação ao mesmo mês de 2010, o salto foi de 17,4%, indicador que chegou a 22,4% no acumulado de janeiro a novembro. A inadimplência geral teve uma discreta elevação, numa expansão de 1,9% em comparação com outubro. As dívidas não bancárias (lojas, cartões de crédito, financeiras e prestadoras de serviços, como energia elétrica, água e telefonia) subiram 0,9%. Nos débitos bancários, o calote aumentou 0,5%. Os economistas da Serasa Experian avaliaram que, com o maior endividamento, a inflação corroendo salários e o menor ritmo da atividade, o consumidor deve priorizar os pagamentos.