Milão e Bruxelas ; Alvo de um forte movimento especulativo, com a maior parte dos investidores apostando em sua derrocada, a Itália foi obrigada a pagar juros recordes ontem para financiar parte de sua dívida. As taxas de juros encostaram nos 8% ao ano, o que engrossou o coro dos analistas ; entre eles Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York ;, de que a terceira maior economia da Zona do Euro será obrigada a dar um calote em parte dos seus débitos e pedir socorro internacional.
Para vender 7,5 bilhões em títulos com vencimento em três anos, a Itália assumiu encargos de 7,89% ao ano, taxa sem precedentes desde 1997. Há um mês, os juros cobrados do país giravam em 4,93% anuais. A disparada do custo do endividamento começou diante da incapacidade do governo de Silvio Berlusconi de apresentar um plano consistente de redução dos gastos públicos. A pressão foi tamanha, que Berlusconi teve de renunciar, sendo substituído por Mario Monti, um respeitado técnico comprometido com políticas de ajuste fiscal.
Nervosismo
Mas, apesar do apoio da Comissão Europeia (CE) ao novo primeiro-ministro italiano, os líderes do bloco econômico elevaram o tom e pediram à Itália que promova reformas ambiciosas no setor público e as aplique o mais rapidamente possível para reduzir os rombos fiscais e estimular o crescimento econômico. Em reunião ontem, eles assinalaram que o país precisa dar sérias demonstrações de que realmente está disposto a evitar o pior. Se a Itália ruir, o fim do euro será questão de tempo. A dívida italiana totaliza 1,9 trilhão de euros, o correspondente a 120% do seu Produto Interno Bruto (PIB).
No que depender da Alemanha, o endividamento dos países que integram a Zona do Euro não poderá passar de 60% do PIB. Essa, segundo o ministro das Finanças da maior economia do bloco econômico, Wolfgang Schaeuble, será a única forma de aumentar a confiança na sustentabilidade da Zona do Euro. A inquietação dos investidores é grande, sobretudo pelas dificuldades dos governos em ampliar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (Feef), dos atuais 500 bilhões de euros para mais de 1 trilhão de euros. O reforço nesse instrumento de socorro, no entender do mercado, é vital para salvar a Itália e a Espanha. A decisão sobre o Feef deve sair hoje.
Moody;s vê risco de falência
A agência de classificação de risco Moody;s informou ontem que reduzirá as notas de 87 bancos europeus diante das dificuldades dos governo em resgatá-los em caso de dificuldades. Essas instituições estão espalhadas por 15 países. Sete são francesas, 21 espanholas, 17 italianas, nove austríacas e cinco norueguesas. Para a Moody;s, é urgente a necessidade de reforço de capital desses bancos, que correm risco de falência. Também ontem, os mercados foram abalados pelo notícia de que a Standard & Poor;s (S) cogita incluir a nota ;AAA; da França, que atualmente é estável, em uma perspectiva negativa. Se confirmado, a segunda maior economia da Zona do Euro poderá perder o selo máximo de segurança para os investidores.