O mercado de imóveis vem perdendo o ritmo. Não só os preços estão desacelerando, como também a quantidade de lançamentos e, em consequência, as vendas. As exceções são Brasília e Rio de Janeiro, onde o metro quadrado de alguns lançamentos mantém o ritmo de alta e já chega a R$ 50 mil. Na capital federal, é a renda alta de parte da população, principalmente dos servidores públicos, que garante a demanda aquecida. Já no Rio de Janeiro, os preços estão inflacionados por causa das obras de infraestrutura para sediar as Olimpíadas e a Copa do Mundo.
A desaceleração, no entanto, não assusta a presidente da Associação Brasileira do Mercado imobiliário (ABMI), Virgínia Duailibe. ;O mercado estava muito acelerado;, ponderou. De acordo com Virgínia, a mudança no perfil dos lançamentos e no comportamento dos consumidores já era esperada num ano atingido pelo reflexo da crise internacional, com revisão para baixo das expectativas de crescimento do país, inflação se distanciando do centro da meta e o Banco Central tendo que agir para conter um desaquecimento ainda maior da economia, via corte da taxa Selic. Em São Paulo, por exemplo, a quantidade de lançamentos caiu de 3.663 em maio para 2.732 em julho. No Nordeste, também vem ocorrendo queda na velocidade das vendas. Em Brasília, o mercado continua aquecido, mas a valorização dos imóveis está mais lenta. As construtoras já reveem para baixo o preço inicial das unidades lançadas em relação ao planejado originalmente, segundo corretores.
;O mercado de Brasília é atípico. É um mercado em que há práticas não convencionais, como, por exemplo, permutas de terrenos que valem até 70% dos apartamentos, sem comparação com o resto do país, em que o percentual não passa de 40%;, observa Dualibe. É na capital federal também onde está o preço mais alto da construção por metro quadrado. Segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), depois de Brasília, o valor médio mais alto é encontrado no Rio de Janeiro (R$ 7,2 mil) e em São Paulo (R$ 5,8 mil).
Trajetória
No acumulado de 12 meses até outubro, o preço médio do metro quadrado pesquisado pela Fipe em sete capitais ; São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Distrito Federal, Recife, Fortaleza e Salvador; aumentou 28,8%. As maiores altas foram registradas no Rio de Janeiro (39,8%), Recife (29,3%) e São Paulo (28,6%).
Mesmo essa elevação expressiva nos preços mostra desaceleração na comparação mês a mês. O índice Fipe Zap, construído com base nos anúncios de apartamentos prontos, cresceu 1,6% em outubro ante 1,9% em setembro. A trajetória de desaceleração começou bem antes, a partir de abril, quando foi registrado um aumento de 2,7% nos preços dos imóveis anunciados.
O valor médio do financiamento para quem utiliza as linhas de crédito com recursos da caderneta de poupança gira em torno de R$ 140 mil. O empréstimo, pelas regras do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), pode chegar a R$ 450 mil, com o valor de avaliação ou venda do imóvel limitado a R$ 500 mil. O prazo de pagamento máximo é de 30 anos, com a taxa de juros alcançando entre 9% e 10% ao ano, mais Taxa Referencial de Juros (TR), dependendo da instituição.
Com recursos próprios, a Caixa Econômica Federal e outros bancos financiam imóveis acima do limite do SFH, com juros mais altos, podendo chegar a 12% ao ano mais TR. Já para as famílias de renda mais baixa, os recursos vêm do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e a taxa de juros é de 5% ao ano mais TR. O financiamento médio fica em torno de R$ 65 mil.
R$ 58,9 bi em empréstimos
Entre janeiro e setembro deste ano, o total de financiamento para a casa própria concedido no país pelos diversos bancos que integram o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) chegou R$ 58,9 bilhões. Os dados são da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança ( Abecip). Esse total já supera todo o financiamento concedido em 2010, que foi de R$ 56,2 bilhões. Só em setembro foram financiados mais de 44 mil imóveis.