Jornal Correio Braziliense

Economia

Grandes empresas exportadoras se voltam para os mercados da Ásia

Belo Horizonte ; Gigantes brasileiras com atuação internacional que perderam vendas na Europa e nos Estados Unidos se aproveitam de outros mercados, particularmente da Ásia, ainda livres do redemoinho que suga o velho continente. Embora a China esteja crescendo menos, não dá qualquer sinal de que se aproxima de uma recessão, observa o presidente da Vale, Murilo Ferreira. ;Felizmente, os países emergentes com grande contingente populacional, como China, Índia, Brasil, Indonésia e Tailândia, estão recebendo no seu mercado de consumo um grande contingente de pessoas que têm ascendido socialmente. Elas demandam residências, aparelhos eletrodomésticos, automóveis e uma série de outros produtos. Então, a nossa visão é muito positiva;, afirma.

Tendo como pano de fundo o processo de urbanização, a locomotiva asiática tem 110 milhões de pessoas na chamada classe média, universo que vai alcançar 240 milhões em 2020, ou seja, mais que o dobro, lembra Ferreira. Enquanto a Europa tem 35 cidades com mais de 1 milhão de pessoas, a China terá 221 cidades com essa população em 2025. Com 35% de sua receita operacional apurada na economia chinesa, a Vale está de olho nas oportunidades que serão abertas por programas para construção de 50 milhões de casas dentro de cinco anos. A estrutura delas, diferentemente do método construtivo do Brasil, usa o aço em grandes quantidades, e, portanto, precisará do minério de ferro produzido pela Vale.

Está ocorrendo, em geral para a indústria da mineração exportadora, um redirecionamento para o continente asiático de volumes que perderam espaço na Europa e nos Estados Unidos, confirma o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Paulo Camillo Vargas Penna. Ainda assim, clientes da França e da Itália respondem por não mais de 4% das exportações brasileiras de minério. ;Não vamos nos esquecer de que a atividade econômica na China continua aquecida. O cenário para a mineração é de oferta ainda mais apertada que a demanda;, afirma.

Consumo
Da mesma forma, o deslocamento das vendas para a Ásia é sinônimo de oportunidades, em meio à turbulência mundial, para os fabricantes de celulose. Principal consumidora no mundo da matéria-prima, em especial a brasileira, composta de fibras curtas com qualidade em textura e maciez para a fabricação de papéis sanitários, a China aumentou em 30% o consumo neste ano, ante 2010. Só do Brasil, os chineses compraram 40% mais de janeiro a outubro, segundo Paulo Eduardo Rocha Brant, presidente da Cenibra, terceira maior fornecedora brasileira de celulose branqueada de eucalipto. A empresa tem como acionistas sócios japoneses do grupo Japan Brazil Paper Pulp Resources (JBP).

Os acionistas da Cenibra preferiram adiar a decisão sobre um projeto para duplicar a produção da fábrica de Belo Oriente, no Vale do Rio Doce mineiro, orçado em US$ 1 bilhão somente na parte dos investimentos industriais, ou seja, sem contar o reforço no abastecimento de madeira. Isso não significa que a expansão saiu do radar da companhia. De acordo com Paulo Brant, os japoneses são cautelosos e querem ver um cenário mais claro dos rumos da crise. Ainda no campo das oportunidades, a produção brasileira tem a ganhar, na avaliação de Paulo Brant. ;O segmento da celulose destinada à fabricação de papeis sanitários, em que o Brasil está bem colocado, é o que mais cresce no mundo;, diz o executivo.

O fenômeno está associado à melhora dos rendimentos da população nos países emergentes e tem ligação com o processo intenso de urbanização. Murilo Ferreira, presidente da Vale, lembra que a taxa de urbanização na China é semelhante a do Brasil dos anos 50 e na Coreia equivale à década de 70 na economia brasileira. Ferreira dá mais um exemplo das chances que o mercado asiático abre ao Brasil e ao mundo: há 36 carros circulando na China para cada mil habitantes, ao passo que na União Europeia, são 487 por grupo de mil pessoas.

Nordeste
Atrás desses novos consumidores das nações emergentes, inclusive no Brasil, a Fiat Automóveis tem um projeto de longo prazo de olho no Norte-Nordeste do país, região considerada a China brasileira, uma vez que é grande o potencial de compra da parcela que está chegando ao consumo. Com investimentos de R$ 4 bilhões, a montadora vai erguer uma fábrica em Goiana (Pernambuco).

O diretor de Relações Institucionais da montadora italiana, Antônio Sérgio Martins Mello, estima que a produção nacional crescerá 5% neste ano em comparação com 2010, atingindo quase 3,5 milhões de veículos. Em relação às importações, ;o sinal foi dado;, diz ele, referindo-se ao aumento do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) que pode reduzir a entrada de carros estrangeiros no país a partir de 15 de dezembro. A empresa reiterou o investimento de R$ 7 bilhões na expansão da fábrica de Betim, na Grande Belo Horizonte, e no desenvolvimento de novos produtos.


50 milhões
Número de casas previstas para os próximos 5 anos em programa de construção chinês