Jornal Correio Braziliense

Economia

Fundo de investimento é opção para ganhar mais a longo prazo

Disponível no mercado há mais de 50 anos, a aplicação ainda é desconhecida. O rendimento maior está associado ao risco elevado

O mercado financeiro é rico em opções que prometem um futuro tranquilo. Os fundos de investimentos são uma dessas alternativas. Mas embora existam no Brasil desde 1957, eles ainda são alvo de muitos mitos, alguns absurdos. Há quem diga que os fundos são talhados para determinados perfis de renda e de classe social. Ou ainda exigem disponibilidade de tempo e conhecimento específico. Nada disso, porém, faz sentido. Na definição de Alexandra Almawi, economista da Lerosa Investimentos, os fundos são como condomínios. Ou seja, eles reúnem investidores com objetivos e necessidades comuns ; não importa se ricos ou pobres.

Na comparação de Alexandra, o investimento é como um prédio onde cada morador é dono de uma cota (um apartamento) e paga a um terceiro (uma administradora de condomínios) para gerir e coordenar as tarefas do prédio (limpeza, porteiro, elevadores). A ideia simples ajuda a compreender e a diferenciar a aplicação de outras mais tradicionais, como a caderneta de poupança. Nos fundos, a decisão deve levar em conta sempre prazos longos. Além disso, quanto maior a possibilidade de retorno do capital investido, maiores serão os riscos envolvidos. Há quem pense que colocar seu dinheiro nesse tipo de investimento é o mesmo que apostar em ações. Mas não é.

;Existem, sim, aqueles fundos compostos por ações, mas eles não necessariamente funcionam dessa forma;, explica Alexandra. Para quem está interessado em ter ganhos maiores que nas aplicações convencionais, o importante é verificar na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), antes de colocar o dinheiro em fundos de investimentos, a classe a que eles pertencem. Fundos de renda fixa e os DI, por exemplo, não podem ter ações em carteira. Ler o regulamento também é fundamental. Lá, os cotistas encontram dados importantes sobre taxas de administração, impostos, rentabilidade e riscos.

Mas é preciso atenção. Nem sempre os grandes bancos, por exemplo, oferecem os maiores lucros. Estudos de Rafael Paschoarelli, economista da Consultoria Comdinheiro e professor de finanças da Universidade de São Paulo (USP), comprovam que mais de um milhão de investidores que aplicam em fundos DI ; atrelados à taxa paga entre bancos ; ganharam menos do que na caderneta de poupança nos últimos 12 meses. ;Eles cobram taxa de administração acima de 6%. A poupança paga juros entre 7% e 7,5%. Quem investe R$ 1.000 perde nesses fundos pelo menos R$ 60 ao longo do ano. Os gerentes não explicam isso. Uma pessoa esclarecida não vai aceitar pagar mais de 1%;, observa. Sorteios mensais e resgates automáticos são, quase sempre, as justificativas da
instituições para cobranças tão altas.
Transparência

Outro mito que precisa cair, na visão dos especialistas, é a ideia de que os recursos do fundo estão vinculados a um banco. ;A instituição financeira é só uma prestadora do serviço;, ressalta Alexandra. Ela lembra ainda que nos fundos há figuras como o administrador (representante frente aos órgãos reguladores), o gestor (responsável pela decisão de investimento) e o custodiante (que guarda os papéis). Se o gestor quebrar, os cotistas escolhem outro. ;O que importa é a estratégia, ou seja, os papéis adquiridos. Se ele (gestor) erra a mão, o lucro passa a ser menor;, explica.
Também é importante observar a liquidez. Em caso de resgate do fundo, se a possibilidade de revenda dos ativos for baixa, pode não haver comprador. E oferecer a carteira por preço mais barato é o mesmo que perder dinheiro. Por isso, existem empresas especializadas em rating, que analisam a capacidade de saldar compromissos financeiros, a exemplo da recém-criada Liberum Ratings. Seus analistas, Mauricio Bassi e Décio Baptista Santos, estudam a qualidade ou o risco dos gestores de recursos com o objetivo de dar mais transparência e liberdade de escolha ao cotista. ;Na hora da tomada de decisão, o rating será mais uma ferramenta para ajudar o investidor;, explica Santos.


Atualmente, esse tipo de avaliação é feita apenas para os Fundos de Investimentos de Direitos Creditórios (FIDCs), dedicados a investidores qualificados, mas a tendência é de que as análises sejam ampliadas. ;O mercado de crédito público vai ser substituído. Os títulos ficarão menos atraentes, com a taxa básica de juros (Selic) em queda. Os gestores terão que buscar rentabilidade em títulos de crédito privado. O rating será cada vez mais importante;, ressalta Bassi.

Diversificação

No mercado de fundos, as más notícias da economia nem sempre significam prejuízo. O pânico que arrasta para baixo as bolsas de valores do mundo inteiro, por conta da crise na Zona do Euro, por exemplo, afetou bem menos os fundos de investimento, diz Frederico Sampaio, especialista em renda variável da gestora de investimentos Franklin Templeton. As perspectivas, aliás, ficaram muito interessantes, já que o Ibovespa, índice que mede a lucratividade das ações mais negociadas da bolsa de valores, despencou quase 18% neste ano. Com isso, as ações ficaram mais baratas e convidativas ; a queda abriu um vasto terreno para a valorização.


;Quem teve visão de longo prazo acumulou um retorno fantástico. Os que entrarem agora, num horizonte de cinco ou seis anos, também terão um futuro garantido;, assegura Sampaio. Ele cita como exemplo um fundo formado, em 1998, com a maioria de seus papéis dos setores de infraestrutura, bens de consumo, petróleo e gás. De lá para cá, considerando o fechamento de outubro de 2011, o Ibovespa cresceu 713%. No mesmo período, o fundo teve rendimento líquido ; descontadas as taxas ; de 1.735%. ;Tudo depende da estratégia do gestor. Nesse caso, ela foi feliz;, orgulha-se.


A economista da Lerosa Investimentos, contudo, afirma que o investimento não precisa ser necessariamente de longo prazo. Quem tem R$ 100 mil para comprar um imóvel daqui a três meses, no lugar de apostar na poupança ou no CDI, deve escolher um fundo com perfil de renda fixa, cuja rentabilidade é acertada na hora da compra, recomenda Alexandra. Um exemplo: um fundo tradicional, considerando os meses de agosto, setembro e outubro, apresentou rentabilidade de 3,13%, ganho de R$ 3.130. O CDI rendeu 2,92% e devolveu ao cliente R$ 2.924. Descontado o Imposto de Renda para aplicações de menos de 180 dias, o fundo ficou com saldo de R$ 102.425, acima dos R$ 102.256 do CDI.


Os fundos de renda fixa e DI também são importantes em tempos de inflação e juros altos. Nessa hora, o que vale é a tentativa de preservar o valor do dinheiro. Mas, mesmo com os preços razoavelmente controlados, e com a taxa de juros em queda, há quem defenda os benefícios dos investimentos que garantam liquidez e segurança, sobretudo diante de um futuro incerto, por conta da conjuntura internacional. ;Com as perspectivas de inflação alta, o governo acabará tendo que a controlar pela taxa de juros;, prevê Luís Fernando Pessoa, presidente da Local Invest, consultoria especializada em operações financeiras.
Os especialistas em mercado financeiro, contudo, são unânimes em dizer que, apesar das avaliações contraditórias, todas as opções apontadas dão bons resultados, desde que se tenha critérios. ;Pode parecer loucura, mas não é;, garante um operador. E ele reforça: ;O que interfere no desempenho é a diversificação;. O gestor do fundo, normalmente, monta uma carteira inicial que pode mudar ao longo do tempo se não produzir o resultado esperado. ;Por isso, o importante é ler o prospecto, que define tudo;, reforça Pessoa.