Jornal Correio Braziliense

Economia

Espanha e França ficam sob ataque cerrado de mercados financeiros

Madri e Paris ; Depois de encurralar a Itália, os mercados financeiros aumentaram ontem (17) a pressão sobre a Espanha e a França, que tiveram que pagar taxas recordes aos investidores para conseguir vender títulos de 10 anos. Em comparação com os bônus da Alemanha, considerados referência na Europa, o diferencial pago pelos títulos franceses chegou a 200 pontos. No caso dos papéis espanhóis, a taxa de risco alcançou 500 pontos. Não se via tamanho ágio desde a criação da união monetária, no início da década passada.

Na Espanha, a menos de três dias das eleições que devem tirar do poder o Partido Socialista, do primeiro-ministro José Luis Zapatero, abatido pela crise, o governo pagou 7,088% ao ano para emitir 3,6 bilhões de euros. No último leilão de bônus de 10 anos, em 20 de outubro, a taxa havia sido de 5,43%. O alto custo imposto pelo mercado obrigou o tesouro espanhol a mudar seus planos e a tomar emprestado um valor mais baixo do que 5,5 bilhões de euros previstos.

A situação só não foi pior porque, mais uma vez, o país foi salvo pelo Banco Central Europeu, que comprou uma quantidade não revelada de títulos espanhóis, movimento que, no fim do dia, conseguiu fazer com que a taxa de risco caísse para 460 pontos. A gravidade da situação, no entanto, assustou tanto o governo quanto a oposição, já que uma taxa de 7%, segundo analistas, coloca a Espanha na situação de virtual insolvência.

Mãos atadas
Provável vitorioso no pleito de domingo, o líder conservador Mariano Rajoy, do Partido Popular, tentou acalmar os investidores renovando as promessas de austeridade. ;Nós temos que cortar tudo, com exceção das pensões, a fim de atender, com prioridade, à redução do deficit público;, disse, em entrevista publicada ontem pelo jornal El Pais. A Espanha tem um rombo nas contas governamentais equivalente a 6,6% do Produto Interno Bruto e assumiu com a Comissão Europeia o compromisso de reduzi-lo para 4,4% no próximo ano.

A dúvida, no entanto, é se o país, que atravessa uma grave recessão e apresenta a mais alta taxa de desemprego da Europa ; 21,5% da força de trabalho, sendo que, entre os jovens, o índice vai a explosivos 45% ; vai dispor de tempo para acalmar os mercados. Para o analista Alberto Roldán, o período eleitoral vivido pela Espanha não torna o país imune às pressões dos credores, que já impuseram mudanças de governo na Grécia e na Itália. ;A Espanha não pode fornecer agora qualquer medida;, porque o atual governo está de mãos atadas e o próximo ;não será capaz de agir antes de janeiro;, afirmou.

Um agravamento da situação tornaria a Espanha a próxima candidata a um plano de resgate, notou o El Pais, observando que foi isso que aconteceu a outros países quando tiveram que pagar juros na casa dos 7% para rolar sua dívida. ;A Espanha está ultrapassando esse limite;, escreveu o diário, o mais influente do país.


Pressa com as medidas
Os líderes de Alemanha, Angela Merkel, Itália, Mario Monti, e França, Nicolas Sarkozy, querem ;acelerar; a aplicação de medidas para ;garantir a estabilidade financeira e o crescimento da Zona do Euro;. Em uma conversa por telefone, os três dirigentes ;concordaram que é preciso acelerar a aplicação das medidas adotadas pelos países da Zona do Euro na reunião de G-20 de Cannes;, diz comunicado distribuído pela presidência francesa. Durante a conversa, Monti ;confirmou que estava plenamente decidido a consolidar o orçamento da Itália e adotar as medidas estruturais que permitirão reativar o crescimento, respeitando a equidade social;, assinala o documento.